quinta-feira, junho 29, 2006

O velho sujo da rua emporcalhada.

Precisa aprender a se virar sozinho, compreender os sinais obtusos e sem iluminação que vêm de sinais fechados. Encruzilhadas escuras sem opção. É tudo uma questão de tempo. Os aviadores tendem a se sentirem cansados, mas é porque lhes falta oxigênio, não em um todo, mas algum, até porque em outro caso desfaleceriam.

Caminha pelas ruas como pedinte sem buraco para se esconder na noite que se aproxima. Vê parques e passarelas e não compreende seus significados. Talvez para ele a vida já tenha morrido, talvez tenha sido apenas uma super dosagem de endorfina equivocadamente aplicada, para sanar uma dor que não existia, e que se tornara efeito de demência. Disse-lhe, certa vez, que devia parar com este tipo de uso. Substâncias são ilícitas ou não por alguma razão; não importa a razão, apenas são. E devemos obedecer?! Claro.

Mesmo pedinte sem buraco para se esconder na noite que se aproxima(va), é apenas um menino, um garoto pagão; sem querelas nem mentiras para medir, sem passado para em sua mente comprimir. Sim, pois, se é que me entendem, quero dizer, o passado se comprime em algum vácuo dentro de si. Mas não é falho, não é infalível, muitas vezes o passado é desperdiçado, serve para nada, se é que entendem novamente. Prefiro conversar com vocês muitas vezes assim, fica mais fácil ilustrar.

Ele é apenas um pedinte, um gari de sutilezas absurdas que não têm passado; um gari que varre folhas que não fariam diferença serem varridas; um gari que varre o que não existe.

Se não existe é porque nunca existiu. Se sempre existiu, tem passado. O passado serve para acumular. Acumular o que? Não sei. Quem sabe?

Muitas vezes o passado é desvanecido por água, por isso insisto: bebam água, quando o passado foge da memória, quando o passado é demais, quando o passado simplesmente é oco; não importa a situação, tudo é questão de beber água; quanto mais pura melhor.

Um gari pedinte que varre folhas que não existem e procura (va) um lugar, agora aconchegante, para passar a noite fria que se aproxima (va). Vem que vem nervosa, anunciada por ventos frios calamitosos; seria uma catástrofe? Não, não seria. Apenas no caso dele se não encontrar seu lugar.

Está frio, ele me disse; é tudo questão de água, respondi-lhe. Ensaiamos um diálogo, que não surtiu efeito, que não faria diferença alguma na vida de pessoas vazias, como eu e ele (Nossa passagem), mas aconteceu. E não importa o efeito, importa que passou, virou passado, poeira, fumaça suja sem parte dentro, e a conversa sem resultado se comprimiu em uma lacuna de tempo, um lapso de memória, uma falha na trilha seguida pelo vento. Ofereci-lhe um casaco velho que tinha em casa, uma garrafa de água comprada na bolangerie ao lado. Enjoado, exigiu água gaseificada. O preço era o mesmo, anuí e dei-lhe. Neste momento compreendi de quem se tratava: alguém que entendia perfeitamente o sentido de se beber água, e o momento certo para fazê-lo. Corri em casa, perguntei a meu bem se tinha algum casaco velho, um acolchoado, manta, montoado de panos que fosse, pois lhe tinha prometido e esperava-me como cordeiro na entrada do prédio; e na verdade eu não tinha casaco, mas meu bem teve, deu-me um montoado de panos e lhe entreguei.

Talvez não consiga o lugar para passar a noite, mas pelo menos agora o frio será menor, e além de tudo, tem água gaseificada – disse-lhe. Sim, obrigado, de certa forma – respondeu-me. Virou-me as costas, resmungou algumas palavras, voltou-se novamente enquanto eu apenas o observava e me pediu um cigarro. Não tinha, mas no bolso do montoado de panos que acabara de receber havia um velho amassado, porém fumável. Meu bem fumava, e o montoado de panos vinha dela. Enfadei-me do velho e disse-lhe que de nenhum modo acender-lhe-ia o cigarro, que se virasse para encontrar o fogo. Saiu sorrindo. Deve ter cuspido alguns xingamentos gratos. Que não entendi, claro.

terça-feira, junho 27, 2006

As árvores que gritam calor.

Tinha um rosto amassado e mascado como de chiclete. Era muito velha. Estava sentada em um banco de parada de ônibus no meio do sertão do Mato Grosso. Fazia um calor delirante de quarenta e poucos graus. Eu estava zonzo. O ônibus parava para o almoço e a comida se enchia de moscas e gotículas de água dentro de uma caixa com tampas plásticas. Não conseguia pensar em comida. Meu nariz escorria por causa do ar-condicionado forte. Comprei um refrigerante gelado e me sentei ao lado dela. “Tá ruim meu fí?”; “Sim, gripado, resfriado, atacado da rinite, atacado de tudo, tá tudo ruim”; “Podi tomá essi trem não, ispera isquentá”; “Mas tá muito quente, preciso me refresca”; “É, antigamente era essi calorzão não, troço isquisito, tem ficado assim duns tempim pra cá”. O ônibus buzina e me despeço. Ela sorri com o seu rosto cheio de marcas. Movimenta todas as suas rugas fazendo um balé facial. Linda, na altura da elasticidade rugosa de seu rosto.

Jogamos sinuca e tomamos cerveja em um bar onde pessoas surrealisticamente simples se aproximam: “Põe essa ali no cantim qui entra, diboa”; “Ah, isso é jogo dirmão, dá em nada”. As bolas fazem barulho, o calor é intenso e a cerveja refresca. Outros homens formam outro grupo na mesa ao lado e falam de coisas que não entendo. Têm mãos duras, calosas, e andam de pés descalços. A pele do rosto é dura e queimada pelo sol. Oferecem-nos cerveja. Aceitamos. Formamos duplas e jogamos juntos. Jogo contra o meu irmão, que é parceiro do Adilso; vou com o Jibóia. Ele é bom e ganhamos duas seguidas. Depois eles empatam e apostamos a garrafa de cerveja mais gelada do freezer para a melhor de cinco. Adilso é quem cuida do bar do clube onde estamos. Eu derrubo uma bola deles, o que faz cair outra. Mas Jibóia mata três em seqüência e deixa a oito na boca. Adilso mata uma das duas que ainda lhes falta e prega a oito no canto. Perde a sua segunda jogada e Eu erro a oito. Meu irmão se suicida e ganhamos a partida. Rimos, falamos de futebol, elogiamos a cerveja gelada que vem como uma dádiva em um calor amazônico de quarenta e cinco graus. Jibóia me promete mostrar a putaria da noite. Despedimo-nos e vamos embora. Em uma tarde, éramos todos grandes amigos. Jibóia deixou a escola na terceira série e já esfaqueou três caras. Vive fazendo bicos de pedreiro ou capinando matagais. Adilso era caminhoneiro e passou seis meses internado em uma clínica de alcoólatras. Deixou Santa Catarina e hoje cuida do bar do clube de uma vila amazônica. Somos todos grandes amigos, em uma tarde de inverno amazônico.

À noite, o forró embala uma casa de madeira em uma rua sem asfalto da cidade no meio da floresta. Pessoas feias de todos os tipos dançam, pulam, esperneiam, se agarram e se divertem. Entro no clima. Jibóia me apresenta a Josefa, uma morena sem dois dentes dianteiros com cabelo grenho. Apresenta-me também a Geralda, Maria Cristina, Cíntia, Sebastiana, Vitória e Luizete. Sebastiana é baixinha, com seios médios. Tem os pés sujos da poeira do chão mal-asfaltado e usa sandálias. Os dentes são tortos, mas é a única de todas que tem todos eles. O cabelo está molhado e cheirando forte a condicionador. Ela me excita, do alto de sua trashisse. Jibóia puxa uma mesa no canto e pega duas garrafas de cerveja. Algumas das meninas da roda, recém-apresentadas, se dispersam. Sebastiana segue a amiga, e eu vou buscá-la. Puxo-lhe uma cadeira e a convido a se sentar. Sirvo o seu copo e pergunto o que faz na cidade no meio da floresta. Sebastiana diz que ajuda o pai na farmácia durante as férias, e cursa farmacologia a trezentos e trinta quilômetros de distância nos outros meses do ano. Ela é tímida. Faço ela beber. Após alguns copos vejo que se solta. Abre sorrisos espontâneos e mexe os cabelos, já então secos. Jibóia está atracado com uma kenga velha desdentada, dançando forró loucamente na pista de piso liso vermelhão. Meu irmão conversa com Geralda. Ponho minha mão direita na coxa de Sebastiana aproximando a minha cadeira. Ela finge não perceber. Reponho cerveja em nossos copos e desta vez vou com a mão um pouco mais acima. Ela me responde com um olhar encabulado. Chamo-a para dançar. Sou duro, mas ela tem paciência e se descontrai. Parece ter ficado contente por saber dançar e estar me ensinando. Várias mulheres, como ela, já tentaram me ensinar a dançar em outras cidadelas como essa. Sebastiana se adoça com isso. Depois de alguns pisões e trombadas, a puxo para fora. Há uma área que é como um quintal, uma parte da casa de madeira ao ar livre. Encosto-a na parede e percorro o seu corpo. Ela me excita, mas tenho certa relutância em beijá-la. Queria poder ser mais direto. Ela me permite toca-la, mas logo procura a minha boca. Beijo a sua nuca tentando desviar. Penso que deveria ter bebido mais. Sebastiana toca meu membro frouxamente, porém na medida para que eu a beije. Não mais penso nem hesito, apenas ajo. Aperto todo o seu corpo. Vamos a um canto mais escuro. Empurro sua cabeça para baixo e logo percebe o que quero.

Já são duas e vinte e cinco quando olho no relógio. Dou uma volta pelo salão e não mais vejo Jibóia nem meu irmão. Ando duas quadras e chego em casa. Ouço barulhos no quarto do meu irmão. O ar-condicionado abafa e o deixo. Penso que deveria ter trazido Sebastiana. Volto ao salão, com pressa, para ainda a encontrar, mas ela já havia ido. Começo a ficar desesperado para levar alguém à minha cama de casal. Há tempos não tinha uma cama de casal e forçava pessoas a dormirem comigo em uma cama de solteiro. Não quero dormir. Lembro de meu amigo dispensado feiúras dizendo: “Droga, elas são cães”. Encontro Maria Cristina, pergunto de Sebastiana. Diz ter a visto indo para casa. Maria Cristina é velha e me olha com safadeza. Não necessariamente velha, mas velha para mim. Pergunto despudoradamente se ela gostaria de conhecer a minha cama. Sorri para as amigas e responde que sim. Não seguro sua mão, nem a abraço ou beijo. Andamos duas quadras de ruas mal-asfaltadas. Abro o portão com cuidado. Meu irmão assiste TV e ri de nós. Meu membro dói e precisa de cuidado. Tranco-me com Maria Cristina no quartinho do computador, ligo o ar-condicionado e me dispo sem cerimônia. Ela ri e começa a fazer o que deve. Mais tarde, vou à cozinha e trago água. Ofereço a ela. Deito e finjo dormir enquanto ela bebe. Tenta me abraçar e não me movo. Logo percebe, se veste e vai embora. Agradeço aos deuses tutelares das intempestividades por tudo ter dado certo, e ela ainda ter desaparecido como uma pizza de calabresa. E durmo tranqüilo.

sábado, junho 24, 2006

De volta ao quarto azul; Ele e ela no guarda-roupa.

Sempre sonhei ter uma overdose. Me ver espatifado pelo chão, sangrando, babando, excretando. A cena escatológica da minha vida. Sempre quis sofrer catarses, e acho que a overdose é uma delas. A versão física e mental ao mesmo tempo. “ha crescuto troppo enfretta, questo nostro amore”.

Havia também os banhos de banheira na bacia branca. A água era quentinha e me adocicava. Saía deles com pureza no coração. Às vezes, ela me massageava. Às vezes não, foram apenas três ocasiões na verdade. E eu ansiava por te-la a me massagear as costas.

Um dia quando transávamos, o tesão foi tão violento que, mordiscando o seu lábio inferior, arranquei um pedaço. Gritou e gemeu de dor. Havia algo mais naquilo. Ela sangrava e me confidenciava o quanto gostava de meu irmão, quem tinha visto apenas uma vez. E trepamos ao som da história que fantasiava com ele. No começo foi broxante, mas logo me inseri no papel dele e gozei, fortemente. No ínterim do processo broxante ao triunfante, devido ao redimensionamento do órgão, o preservativo escapuliu. Gozei por ela toda. Ficamos abraçados por algum tempo, ela em cima de mim, pensando e me acariciando com falsidade. Assim que levantou, vi-a pingar; gotejava meu esperma. Foi traumatizante, pois era muito e parecia que ela que gozava, em pé.

Pediu desculpas pelas confidências inadequadas e foi embora.

Domingos de manhã me trazem os piores odores. Tudo fede. Costumo abrir as cortinas para enfrentar o mundo, mas ele não faz sentido. Peço desculpas a mim mesmo. E tento dormir o máximo que posso, puxando forçosamente o próximo dia até mim.

A cidade se enche do vazio. É a velha e pasmacenta azul-pé-no-saco. Passo pelas ruas e pelos bares cheios de gente que não me interessa. A caranga de minha avó é a minha melhor companheira. Passei em frente do velho bar do seu Osvaldo e hesitei em parar. Decidi que era melhor não, naquele sábado. Devia a ele explicações demais, e não estava com a paciência adequada. Pararei em uma próxima ocasião. As putas e ele que me esperem. E enquanto isso rodo pelas ruas largas, vazias e arborizadas com a caranga de minha avó.

O horizonte machuca de tão azulado que é. O menino enlouquece amarrado no hospital, drogado, nunca vi cena mais bizarra. O Bonifácio engorda cada dia mais, castrado, e a Nanica precisa acasalar. Eu também preciso, todos nós precisamos, mas na cidade azul-pé-no-saco não há fôlego, nem possibilidade, as pessoas são boas demais para copular, defecam merdas perfumadas de algodão. Deus a tudo vê e tudo pode. As mulheres sonham com o espírito santo, o maior garanhão da história, aquele ninja que engravidou uma virgem.

Acho que vou sair à rua fantasiado de espírito santo, só para comer as menininhas que se aglomeram nas portas das boates da moda da juventude. São tantas, e eu também tenho tantos paus, vários para cada uma delas.

Devo ir aos ensaios da companhia de balé. Às saídas do colegial. Brincarei de aplicar o terror. Não, preciso me concentrar em minha vida. Preciso arrumar algum preenchimento para ela. Tudo é tão difícil e dolorido. Não, preciso parar. Vou me contorcer e arrancar até a última gota de mim mesmo. Farei um suco de subjetivismo e o beberei com gosto. Servirei como vinho, os meus vinhos de outrora dos quais sinto tanta falta.

A vida era mais doce com eles. E agora me faltam. As noites solitárias nunca foram tão felizes, por causa deles. Não importa o meio, e sim o resultado. Por que Bergman é tão profundo? E, de repente, cômico. Ele se alterna, me engana, se engana, nos engana. Bergman é trapaceiro. Não, não consigo vê-lo assim. Ele era sincero. Mas as suas obras mostram sutilmente o quanto um sujeito pode variar. E Bergman varia, sutilmente mas varia.

- You hungry my dear?
- Not at all.
- You look like so.
- Do I?
- Yeah. Sure you don’t wanna bite this cheesecake?
- What is it?
- Strawberry.
- You know I only like blueberry.
- Yes, darling, I do, but I still hope to change your taste.
- Fuck, tastes are not to be changed, are you able to understand that?
- No, I’m not, and do not shout to me.
- Apologies. Will you accept?
- Just in case you bite me off.
- Where about?
- My left-hand side nipple?
- Don’t say it again or I will.
- Shall you? I can’t believe you’ve got the courage to.
- Yes I have.
- You were supposed to bite my nipple off and you’re making me giggle instead.
- Is there anything wrong with that?
- Yes, everything. Specially with your badly intended teeth.
- Listen, I’m not gonna tell this off again. I do whatever I want, whenever I wish, in wherever I think it’s the place. So whether I make you giggle or cry, whether I kiss or split you, whether I caress or punch you is my business. If you disagree, I’ll strangle you. Is that all right?
- Yes.
- Have I been fully understood?
- Yes.
- Please don’t bend this way right in front of me. You make me crazy doing so. If you carry on doing that, I must rape you, it becomes rather a duty than an entitlement.
- I beg you pardon, but fuck! What the hell shall I do? Everything either hurts or disturbs.
- You’re right my young lady, definitely right, and that’s what scares me most.
- Let me take you for dinner.
- I don’t know whether I want to dine out.
- What about that sushi you used to like so much, do you remember that one?
- Of course I do, we used to spend whole days eating nothing just to get the royal hunger and bring losses to the Japanese man.
- Let’s go there. I’m starving actually.
- Me too.
- Will we shag later.
- I don’t know. It will depend on the amount of alcohol I’ll consume thereafter.
- Fuck, for god’s sake don’t drink that much. Else, don’t have that godforsaken Stella; you know better than me how strong it is.
- I don’t care. I’ll drink whatever I want, if I happen to desire crap, I’ll have crap and nothing including you will stop me, have I been clear?
- You’re so rude.
- No, in fact I’m such a patient guy, you’re the nuisance.
- And you the boredom within impoliteness.
- Who cares?
- Me.
- I’m sorry if I come from a labor family and you from the sophisticated bourgeoisie. I’m trying, I’m really doing my best to be proper, but you must be somewhat patient.
- I’ve been darling, that’s all I’ve done.
- I can’t see it. I can’t figure it out. I can’t realise how rude I am and also how patient you are.
- I reckon we both should be patient.
- Very shortly I’ll no longer be.
- We’ll see what happens next then.
- You wanna a beer as well?
- No, I’ll go for sparkling water.
- That’s fine. I think we’ll shag later on.
- You’re incredibly as bastard as clever.
- Cheers, that’s very kind of you.

sexta-feira, junho 23, 2006

Fazer um livro.

Digressões são relevantemente necessárias.

É um tanto difícil me editar um livro, e separar o que presta do que não. Mais ainda porque ele é meu. E ninguém me ajuda, também pudera, ninguém poderia. O foco varia de acordo com as tensões, e os movimentos factuais ficam balançados. Eu quero fazer um livro!

Tenho medo de me afogar em minha falta de compostura e levar junto a minha pouca disciplina. Há uma falta de direção terrível. Para com o livro, para com o futuro, para com as perspectivas, para tudo. Hesito entre o caminho factual e o visual. Quero algo plástico que faça sentido, exagero. Quero algo também visceral, autêntico, o que me distancio cada vez mais.

Não sei se exponho minhas úlceras honestamente, como qualquer artista sensato - sem medir a sua sensatez – faz, ou se demonstro o meu deslumbramento infantil. Não sei se intercalo as aventuras introspectivas, meladas de fatos dinâmicos, com as minhas aquisições culturais, ou se simplesmente me demoro em descrições orgiásticas despudoradas, onde o Eu agente aparece explícito e descarado. Há ainda o não-saber-o-que-fazer com os pensamentos naturalmente levianos. Ok, já sei, serão impiedosamente descartados. Tenho de ser impiedoso para com pelo menos uma coisa. O grande problema é ter de tudo um pouco. Durante um ano, me perdi e disse tudo de uma só vez. Agora fica difícil desenlaçar. Mas vou.

O primeiro passo talvez seja reconhecer as fraquezas, enfrenta-las e reforça-las. O segundo, decidir com mais firmeza e convicção. O terceiro, esforçar-me ao máximo para deixar o texto enxuto, garantindo o leve e o essencial. Como queria que Camus fosse meu amigo e falasse comigo. É para ser arte, não factual, tudo bem, o dois, sutilmente confessional.

Tenho aprendido a escrever em cadernos, com ela. Talvez eles sejam a resposta.

quarta-feira, junho 21, 2006

As velhas do meu coração.

Há um vocabulário que confunde, que não soluciona, que enlameia e complica. Quero buscar a solução das coisas, mas não as alcanço. Quero chorar o tempo todo, mas sei que não devo. Na verdade, devo, mas não posso. Na verdade, posso, mas não quero me render às pessoas. Condenariam-me severamente caso me vissem chorando. Deveria arreganhar meus prantos despudoradamente, de modo que o mundo pudesse entender a minha dor, que não é como as dores. Por se tratar de ser a minha dor.

Queria que os meus amigos perfeitos fossem fantásticos para sempre. Queria que as pessoas tivessem a desfaçatez de dosar perfeitamente o cinismo com a indiferença. O ao redor me come, e então, o que faço? Nada.

Vem para mim. Fale as palavras mágicas e doces que só você sabe. Entenda o meu penar. Somos amantes. Quero lhe comer. Quero lhe amar. Quero morrer com você no vão de sua tristeza. Façamos o céu escorrer melado e a terra virar lama. Trepemos cento e oitenta e cinco horas sem parar. Chupe o meu dedo, o meu pau, o meu cú e o meu peito cabeludo que lhe chuparei os bicos das tetas, a boceta e os dedões dos pés.

Meu filho fará as coisas mais certas do mundo. Comerá alimentos verdes e estudará em escolas integrais fantasticamente perfeitas. Escreverá livros, plantará árvores e terá filhos, e mais filhos e fundará uma comunidade natureba no meio do sertão, com todos eles e todos serão ou seus filhos ou seus amantes, e às vezes os dois ao mesmo tempo. A lei será a de todos foderem a todos. Devassidão será sinônimo coloquial de amor. Perversão, algo parecido.

Bato teclas de euforia enquanto ali na sala ao lado, as minhas velhas de bocetas ressecadas rezam o rosário para o nosso senhor Jesus cristo, um homem que me fode até hoje, embora tenha nascido e morrido há dois milênios atrás.

Queria ir até lá, completamente bêbado, para lhes esfregar meu pau babado de porra das dezenas de punhetas que acabei de bater. Mostrar-lhes a minha virilidade de jovem. O poder que tenho. A força de transformação. E penetra-las, uma por uma, embora sejam velhas ressequidas, esposas de maridos impotentes, para lhes mostrar o único e verdadeiro poder da salvação, que é a rola.

E depois, mesmo se estivesse exausto, reuniria forças sobrenaturais e as foderia o cú, com raiva e força para lhes rasgar. A dor da carne é o único poder transcendental. É a única forma de revolução. Um cú rasgado pode transformar o mundo. E quero ser esse ator, o agente da dor, o homem que salva o mundo rasgando cús de velhas ressequidas carolas, mulheres de machos sem virilidade.
Ao final, cuspiria em seus rostos e diria, amo todas vocês, meus bens!

terça-feira, junho 20, 2006

Como ela dizia.

Como ela dizia, a decadência não é algo admirável. E então eu replicava: Quem você pensa ser para definir a decadência, a mais bela das fases da vida, a mais madura e consciente? E ela se entediava com os meus dizeres. Talvez, se cansava de mim por conta deles.

Virava o seu rosto e não me olhava por doze horas seguidas. Meu membro se fazia ereto e dolorido. Queria trepar com ela. O tempo todo. Tinha um corpo belo demais para ser pensante. Estou certo de que os deuses tutelares das intempestividades jamais concedem dois elementos tão importantes como estes: beleza e pensamento, ao mesmo tempo a um mesmo ser.

Mas ela, se é que alguém se aproximava dessa quimera, era algo assim. Uma coisa cheia de vida. Um espetáculo, um embate extremo entre forma e falta de razão. A personificação de analgésicos. Ela me guiava. E em todas as manhãs eu só pensava em fodê-la, até que minhas forças fossem esgotadas. Ela tinha a vagina mais pungente que já havia comido, e isso me enternecia severamente. A idéia de que ela jazia ali, tão sóbria quanto real, ao meu lado, me excitava. Com toda a sua volúpia disfarçada de doçura. E eu a amava, ao meu modo, claro, pois ela pensava que tudo existia no mundo somente porque eu queria fodê-la, o que de certa forma era verdade. O mundo era um cubículo onde estávamos encerrados miseravelmente e tudo o que nos restava era foder, até que nossas forças se diluíssem. E eu a amava.

Pegue um copo de vinho para mim, querida. Deixe de ser preguiçoso e vá você mesmo. Estou cansado e minha cabeça dói. Porque bebeu demais ontém à noite. Quem se importa? Você devia se importar. Por que você é tão dura assim? Sou como as pessoas devem ser. Quem elaborou este conceito, de que as pessoas são como devem ser? Não sei, de fato, eu talvez. Mulher, não pense. Você não foi feita para esse fim. Você existe para bailar e embelezar o mundo. É tão bela. Não pense, não fale, não aja embasada em pseudo-conceitos. Os conceitos do mundo regular não se-lhe aplicam. Esqueça-os todos e venha foder comigo. Não há por que ser triste. Vamos trepar até o mundo acabar. Vamos beber todas as garrafas de vinho que nossos amigos nos trouxeram. E quando eles acabarem, compraremos mais. Vivamos menos em torno da vaidade aos outros, ao mundo externo, dedique-a toda para mim, a sua vaidade. Sejamos sujos e não tomemos banho. Trepemos, apenas. Chupe-me com o poder da mente. Toque o meu corpo como queria que fosse tocada. Diga-me banalidades grosseiras. Determine acepções sem as pensar. Cometa arbitrariedes. Você as pode todas com este rostinho lindo. Mas viva e pegue-me um outro copo de vinho, por favor.