terça-feira, junho 27, 2006

As árvores que gritam calor.

Tinha um rosto amassado e mascado como de chiclete. Era muito velha. Estava sentada em um banco de parada de ônibus no meio do sertão do Mato Grosso. Fazia um calor delirante de quarenta e poucos graus. Eu estava zonzo. O ônibus parava para o almoço e a comida se enchia de moscas e gotículas de água dentro de uma caixa com tampas plásticas. Não conseguia pensar em comida. Meu nariz escorria por causa do ar-condicionado forte. Comprei um refrigerante gelado e me sentei ao lado dela. “Tá ruim meu fí?”; “Sim, gripado, resfriado, atacado da rinite, atacado de tudo, tá tudo ruim”; “Podi tomá essi trem não, ispera isquentá”; “Mas tá muito quente, preciso me refresca”; “É, antigamente era essi calorzão não, troço isquisito, tem ficado assim duns tempim pra cá”. O ônibus buzina e me despeço. Ela sorri com o seu rosto cheio de marcas. Movimenta todas as suas rugas fazendo um balé facial. Linda, na altura da elasticidade rugosa de seu rosto.

Jogamos sinuca e tomamos cerveja em um bar onde pessoas surrealisticamente simples se aproximam: “Põe essa ali no cantim qui entra, diboa”; “Ah, isso é jogo dirmão, dá em nada”. As bolas fazem barulho, o calor é intenso e a cerveja refresca. Outros homens formam outro grupo na mesa ao lado e falam de coisas que não entendo. Têm mãos duras, calosas, e andam de pés descalços. A pele do rosto é dura e queimada pelo sol. Oferecem-nos cerveja. Aceitamos. Formamos duplas e jogamos juntos. Jogo contra o meu irmão, que é parceiro do Adilso; vou com o Jibóia. Ele é bom e ganhamos duas seguidas. Depois eles empatam e apostamos a garrafa de cerveja mais gelada do freezer para a melhor de cinco. Adilso é quem cuida do bar do clube onde estamos. Eu derrubo uma bola deles, o que faz cair outra. Mas Jibóia mata três em seqüência e deixa a oito na boca. Adilso mata uma das duas que ainda lhes falta e prega a oito no canto. Perde a sua segunda jogada e Eu erro a oito. Meu irmão se suicida e ganhamos a partida. Rimos, falamos de futebol, elogiamos a cerveja gelada que vem como uma dádiva em um calor amazônico de quarenta e cinco graus. Jibóia me promete mostrar a putaria da noite. Despedimo-nos e vamos embora. Em uma tarde, éramos todos grandes amigos. Jibóia deixou a escola na terceira série e já esfaqueou três caras. Vive fazendo bicos de pedreiro ou capinando matagais. Adilso era caminhoneiro e passou seis meses internado em uma clínica de alcoólatras. Deixou Santa Catarina e hoje cuida do bar do clube de uma vila amazônica. Somos todos grandes amigos, em uma tarde de inverno amazônico.

À noite, o forró embala uma casa de madeira em uma rua sem asfalto da cidade no meio da floresta. Pessoas feias de todos os tipos dançam, pulam, esperneiam, se agarram e se divertem. Entro no clima. Jibóia me apresenta a Josefa, uma morena sem dois dentes dianteiros com cabelo grenho. Apresenta-me também a Geralda, Maria Cristina, Cíntia, Sebastiana, Vitória e Luizete. Sebastiana é baixinha, com seios médios. Tem os pés sujos da poeira do chão mal-asfaltado e usa sandálias. Os dentes são tortos, mas é a única de todas que tem todos eles. O cabelo está molhado e cheirando forte a condicionador. Ela me excita, do alto de sua trashisse. Jibóia puxa uma mesa no canto e pega duas garrafas de cerveja. Algumas das meninas da roda, recém-apresentadas, se dispersam. Sebastiana segue a amiga, e eu vou buscá-la. Puxo-lhe uma cadeira e a convido a se sentar. Sirvo o seu copo e pergunto o que faz na cidade no meio da floresta. Sebastiana diz que ajuda o pai na farmácia durante as férias, e cursa farmacologia a trezentos e trinta quilômetros de distância nos outros meses do ano. Ela é tímida. Faço ela beber. Após alguns copos vejo que se solta. Abre sorrisos espontâneos e mexe os cabelos, já então secos. Jibóia está atracado com uma kenga velha desdentada, dançando forró loucamente na pista de piso liso vermelhão. Meu irmão conversa com Geralda. Ponho minha mão direita na coxa de Sebastiana aproximando a minha cadeira. Ela finge não perceber. Reponho cerveja em nossos copos e desta vez vou com a mão um pouco mais acima. Ela me responde com um olhar encabulado. Chamo-a para dançar. Sou duro, mas ela tem paciência e se descontrai. Parece ter ficado contente por saber dançar e estar me ensinando. Várias mulheres, como ela, já tentaram me ensinar a dançar em outras cidadelas como essa. Sebastiana se adoça com isso. Depois de alguns pisões e trombadas, a puxo para fora. Há uma área que é como um quintal, uma parte da casa de madeira ao ar livre. Encosto-a na parede e percorro o seu corpo. Ela me excita, mas tenho certa relutância em beijá-la. Queria poder ser mais direto. Ela me permite toca-la, mas logo procura a minha boca. Beijo a sua nuca tentando desviar. Penso que deveria ter bebido mais. Sebastiana toca meu membro frouxamente, porém na medida para que eu a beije. Não mais penso nem hesito, apenas ajo. Aperto todo o seu corpo. Vamos a um canto mais escuro. Empurro sua cabeça para baixo e logo percebe o que quero.

Já são duas e vinte e cinco quando olho no relógio. Dou uma volta pelo salão e não mais vejo Jibóia nem meu irmão. Ando duas quadras e chego em casa. Ouço barulhos no quarto do meu irmão. O ar-condicionado abafa e o deixo. Penso que deveria ter trazido Sebastiana. Volto ao salão, com pressa, para ainda a encontrar, mas ela já havia ido. Começo a ficar desesperado para levar alguém à minha cama de casal. Há tempos não tinha uma cama de casal e forçava pessoas a dormirem comigo em uma cama de solteiro. Não quero dormir. Lembro de meu amigo dispensado feiúras dizendo: “Droga, elas são cães”. Encontro Maria Cristina, pergunto de Sebastiana. Diz ter a visto indo para casa. Maria Cristina é velha e me olha com safadeza. Não necessariamente velha, mas velha para mim. Pergunto despudoradamente se ela gostaria de conhecer a minha cama. Sorri para as amigas e responde que sim. Não seguro sua mão, nem a abraço ou beijo. Andamos duas quadras de ruas mal-asfaltadas. Abro o portão com cuidado. Meu irmão assiste TV e ri de nós. Meu membro dói e precisa de cuidado. Tranco-me com Maria Cristina no quartinho do computador, ligo o ar-condicionado e me dispo sem cerimônia. Ela ri e começa a fazer o que deve. Mais tarde, vou à cozinha e trago água. Ofereço a ela. Deito e finjo dormir enquanto ela bebe. Tenta me abraçar e não me movo. Logo percebe, se veste e vai embora. Agradeço aos deuses tutelares das intempestividades por tudo ter dado certo, e ela ainda ter desaparecido como uma pizza de calabresa. E durmo tranqüilo.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Bem como dito ontem!
Parabéns pela eficiência!
Abraço, seu sacana.

6:56 AM  
Anonymous Anônimo said...

Desculpe!! Mas achei o su texto de péssimo gosto. E sem criatividade, e nme precisa comentar muito que denigre muito a questão cultural e regional.

5:44 AM  

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