sábado, janeiro 13, 2007

Volevo essere così.

Quatro suspiros. Nove chuvas seguidas em seis dias. Quarto quente, úmido, pulguento. Colchão velho rasgado. Ventilador desgringolado. Sujeira pela casa, Lisa fedendo sabão de banha de porco. A noite parece inextinguível. Alcanço minha garrafa de cerveja na geladeira e penso que devo sair pra me refrescar. É uma noite vazia, resmungo à Lisa que não me dá atenção e saio. O carro recende gasolina, não tenho mais paciência nem dinheiro para mandá-lo ao conserto. Toca La Décadense no rádio mas não é para mim, não pode ser. As flores estão encharcadas. Chove tanto que me enojo. Há água por todos os lados. Eu quero ver as vantagens do mundo, as mulheres, o dia sem fim. Lisa está morta, absolutamente sem-graça. Prefiro o vigor das mais jovens. Ela é só rugas, manchas, marcas, cicatrizes, restos. Eu também, e não quero me ver num espelho feminino. Quero a pluralidade de corpos e formas, cheiros, loções distintamente novas. Lisa não entende. Acha bonito envelhecermos como dois velhinhos bobos sorridentes. Eu jamais seria um velhinho bobo sorridente, seria rabugento. Ela riria de minhas rabugices na candura de sua idiotice.

A tragédia dignifica. A dor incorpora. Os poros sentem o peso do ar. “Como você me sente quando estou dentro de você?”; “Antes, era como se um feixe de luz muito mais intenso e caloroso que o sol me atravessasse, me repartisse em duas. E agora é como se você sempre estivesse dentro de mim”.

Tenho muitas dúvidas quanto ao universo. Acho que pedaços móveis soltos numa colcha curva e infinita é demais para caber na cabeça das pessoas pequenas. Não podem conceber nada além de si mesmas, nem mesmo um elefante. Se os pequenos, digam-se medíocres, pudessem entender a cabeça de um elefante, as coisas seriam imensamente melhores, aliás, melhores talvez não, mas muito diferentes. Eu estou nessa.
Canso de dizer a ela que a sua educação foi um fracasso. Sua mãe hoje é uma corola que reza de tristeza e sofre por ela ter se casado comigo, alguém que, na visão dela, fez tudo errado. Na verdade, nem nos casamos, apenas moramos juntos, e isso já foi o suficiente para quase matar a velha. Arrepende-se amargamente de ter permitido a filhinha vir estudar na cidade. Pobre iludida, como se o demônio não existisse por trás daquela pasmaceira. E na verdade, ele não existe mesmo, é a velha da mãe dela que o inventa. Os velhos assim são o demônio, fruto dele ou ele fruto delas. Tanto faz, essas coisas que se misturam antes ou depois são sempre as mesmas desde o início. Misturas decentes só acontecem quando você obtém resultados diferentes que dependem da ordem como você mistura os ingredientes. A insatisfação é algo realmente incompreensível.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

o novo hi5 de Africa

www.africamente.com

2:25 PM  
Anonymous Anônimo said...

achei o "na candura de sua idiotice" o ápice, mai fren.

11:49 AM  

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