O Carnaval que não começou.
Andava pros lados sem saber o que dizer. A garganta seca com o pó do ventre de uma doce esposa. Não tinha dinheiro para uma cerveja, ânimo para um cigarro, desejo de se mover. A banda passou ao seu lado fazendo graça do carnaval que nunca acaba. O palhaço disse que estava triste demais para dizer por que sorria. As marchas o atropelaram.
Carnaval é aluguel de tristeza. Vendeu os papéis picados do bolso para poder seguir com a bandinha que tocava as marchas. Viu a menina do rosto azul e pediu por quê. Ela também disse estar triste demais para responder. Um filme azul, um dia roxo, era tudo o que queria ver.
Seguiu com a bandinha sem rumo nem coragem para desistir. Foi levado pelo som das cornetas, do clarinete, pelas batidas ligeiras da caixa e do tamborim. Não podia dizer não. E por detrás do sorriso pintado e do rosto coberto de pó de arroz, uma face doída expressava angústia mal dormida. Duas mulheres com duas agonias o acompanhavam até o final da avenida. Sambavam, brincavam, se entrecortavam nos rápidos instantes de alegria passageira.
O bonde passou e espirrou água da chuva do dia anterior em sua camisa. Estava bêbado, sujo, tinha dormido na rua ao som da banda passar e tinha que ir pra casa. Preferiu não ir. Conseguiu um cigarro de alguém e ficou na calçada, encolhido, tímido, temeroso, pensando em tudo o que tinha feito e desfeito, se havia algo a se arrepender. Olhar o rosto desconsolado da mulher o mataria. Chegaria em casa e ela estaria só, desamparada, desesperançada. Fazia tanto mal à ela que não mais sabia o que era amar.
O dia mudou o seu tempo. Passou a ver as coisas sempre mas claras. A insensatez foi cancelada. Nunca mais o palhaço chorou de tristeza. A mulher murchou ao som da marchinha da finitude que dizia que naquele ano não haveria carnaval.
Carnaval é aluguel de tristeza. Vendeu os papéis picados do bolso para poder seguir com a bandinha que tocava as marchas. Viu a menina do rosto azul e pediu por quê. Ela também disse estar triste demais para responder. Um filme azul, um dia roxo, era tudo o que queria ver.
Seguiu com a bandinha sem rumo nem coragem para desistir. Foi levado pelo som das cornetas, do clarinete, pelas batidas ligeiras da caixa e do tamborim. Não podia dizer não. E por detrás do sorriso pintado e do rosto coberto de pó de arroz, uma face doída expressava angústia mal dormida. Duas mulheres com duas agonias o acompanhavam até o final da avenida. Sambavam, brincavam, se entrecortavam nos rápidos instantes de alegria passageira.
O bonde passou e espirrou água da chuva do dia anterior em sua camisa. Estava bêbado, sujo, tinha dormido na rua ao som da banda passar e tinha que ir pra casa. Preferiu não ir. Conseguiu um cigarro de alguém e ficou na calçada, encolhido, tímido, temeroso, pensando em tudo o que tinha feito e desfeito, se havia algo a se arrepender. Olhar o rosto desconsolado da mulher o mataria. Chegaria em casa e ela estaria só, desamparada, desesperançada. Fazia tanto mal à ela que não mais sabia o que era amar.
O dia mudou o seu tempo. Passou a ver as coisas sempre mas claras. A insensatez foi cancelada. Nunca mais o palhaço chorou de tristeza. A mulher murchou ao som da marchinha da finitude que dizia que naquele ano não haveria carnaval.
1 Comments:
dance, dance meu filho - Bowie lhe convida tumém.
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