domingo, novembro 19, 2006

Saber querer?

Quero dar voltas no céu. Tingir os olhos de azul turquesa e cuspir divindades, entidades, instituições, intuições. Vou chamá-la para dançar e levá-la ao horizonte pleno onde as nuvens são alcachofras com textura de algodão e os alhos têm dentes que dizem coisas sobre mim, sobre você, sobre os dias.

Lá, bem longe de tudo, o vento divisa seu cabelo, os mosquitos beijam-na com carinho e delicadeza; as mãos ficam sempre limpas e o nariz jamais se sente agredido. As voltas que a linha máxima da altura nos proporciona são inesquecíveis. Os dedos, os carretéis de fio de novelo, o papel manteiga cheio de seda, o cetim dourado, você com os dias contados infinitos. Será tudo muito simples, muito tudo isso, muito tudo parte de um todo tão complexo que não se alcança a nossa cognição.

As bicicletas pedalam os instantes mais falsos. Vejo com serenidade a amargura da mesmice. São todas iguais, não você. Há algo de importante para ser feito? Que haja, pois não farei! Quero saber das flores que ficaram de ser trazidas até minha redoma. Abaixe esta bandeira de mote do açúcar, você tem a doçura necessária; suficiente. Deveríamos forçá-las, as falsas, ao cadafalso. Elas me dizem tanta baboseira, meu bem, tanta, faça-as parar, por favor! Antes era sujo e feio e, de repente, passo a ser legal e elegante. Eu nunca quis ouvir qualquer coisa delas, somente comê-las. O simples, o puro, o básico, o natural. E elas agora, na verdade, querem me (des)agradar. Preciso de luvas para tocá-las sem me contaminar. São poços de mentiras luxuosas. Crescem os olhos à cobiça; crescem aos olhos da cobiça. Comem-me com falsa modéstia. O que digo se torna lei, a lei. Eu quero que a lei pare de existir, só por causa delas.

Antes tudo era muito feio. E agora continua sendo, exceto isso, exceto os domingos, exceto você. Vamos viver a eterna sexta-feira, alegre. Fazer exercícios para não ficarmos velhos. Subir morros, montes e montanhas para avistar tudo aquilo que não cabe em nós, que não é nosso, que não pertence a nós, que não entra em nossas pupilas constantemente dilatadas. Eu tenho o fogo das virtudes em minhas vísceras, e não vou entregá-lo assim tão fácil. Quero dizer tudo, mas não posso, não sei, não tenho mais o que fazer, dizer, tampouco a quem recorrer.

Venha, vamos partir. O sol nos conclama a ferver a frieza dos dias mais medíocres. Esqueçamo-los de uma só vez para podermos substanciar a última escolha: a decência de uma vida sem-igual.

3 Comments:

Blogger Guilherme N. M. Muzulon said...

O foda é saber acabar.

7:25 PM  
Anonymous Anônimo said...

ei, gostei bastante desse =)
aliás, admiro a pluralidade dos seus textos
ácidos, irônicos, divertidos, escatológios, crúéis, doces, apaixonados, com frases perfeitas que que mereceriam ser emolduradas e colocadas na parede para ficarmos olhando para elas e perceber, a cada dia, um significado diferente

bjos

9:29 PM  
Blogger Tiago Muzulon said...

poxa, esse foi um dos coments mais legais de todos.

9:07 AM  

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