Chuva; mofo; volume.
Era um dia chuvoso quando entrei na loja que beirava o abismo. As prateleiras subiam ao teto como se ele não existisse. Os ácaros, a poeira e o cheiro de carvalho envelhecido eram sublimes numa atmosfera de idade imensurável.
- Posso ajudá-lo?
- Quero só dar uma olhada, enquanto escapo da chuva.
- Se depender da chuva, ficará aqui até fecharmos; se gostar de livros velhos, também.
- Obrigado.
Lá dentro fazia calor e isso parecia acentuar o odor, velho, eterno, como se desde sempre existira. Os títulos que me apareciam na vertical confundiam. Eu os abria, via escritos arcaicos de uma língua que desconhecia. Desci algumas escadas e cheguei a uma sala onde havia mapas, de todos os tipos. O modo como eles viam o mundo era bastante diferente. Desenhavam animais em regiões onde supunham haver. Cachoeiras em locais que certamente as haviam visto. Regiões com os nomes dos duques, barões, condes ou reis que as possuíam. Os mapas dialogavam comigo e me davam a sua impressão equivocada de mundo. Eram velhos demais para aprender o novo, o certo, e o indecoroso; convenci-me.
Abaixei a cabeça, segui uma flecha que indicava por onde ir e por onde não ir, e atingi a parte de literatura, já no segundo andar subterrâneo. Havia primeiras edições de clássicos; Dickens, Melville, Doyle, A. Miller; caríssimos.
As paredes eram forradas de papéis gastos; as partes descobertas eram mal rebocadas. Lâmpadas trincadas, forradas de teias e poeira restavam pelo chão. Muitos corredores começavam em portinholas com plaquetas que diziam: “Acesso exclusivo para funcionários”. Havia lavabos inacessíveis por todo canto onde donzelas já haviam feito sua toalete, ou iniciado. Eu podia notar também o cheiro da ausência de padres. Eles jamais suportariam aquele ambiente, era fátuo demais. Podem ter havido exceções, como os padres excomungados.
- Posso ajudá-lo?
- Quero só dar uma olhada, enquanto escapo da chuva.
- Se depender da chuva, ficará aqui até fecharmos; se gostar de livros velhos, também.
- Obrigado.
Lá dentro fazia calor e isso parecia acentuar o odor, velho, eterno, como se desde sempre existira. Os títulos que me apareciam na vertical confundiam. Eu os abria, via escritos arcaicos de uma língua que desconhecia. Desci algumas escadas e cheguei a uma sala onde havia mapas, de todos os tipos. O modo como eles viam o mundo era bastante diferente. Desenhavam animais em regiões onde supunham haver. Cachoeiras em locais que certamente as haviam visto. Regiões com os nomes dos duques, barões, condes ou reis que as possuíam. Os mapas dialogavam comigo e me davam a sua impressão equivocada de mundo. Eram velhos demais para aprender o novo, o certo, e o indecoroso; convenci-me.
Abaixei a cabeça, segui uma flecha que indicava por onde ir e por onde não ir, e atingi a parte de literatura, já no segundo andar subterrâneo. Havia primeiras edições de clássicos; Dickens, Melville, Doyle, A. Miller; caríssimos.
As paredes eram forradas de papéis gastos; as partes descobertas eram mal rebocadas. Lâmpadas trincadas, forradas de teias e poeira restavam pelo chão. Muitos corredores começavam em portinholas com plaquetas que diziam: “Acesso exclusivo para funcionários”. Havia lavabos inacessíveis por todo canto onde donzelas já haviam feito sua toalete, ou iniciado. Eu podia notar também o cheiro da ausência de padres. Eles jamais suportariam aquele ambiente, era fátuo demais. Podem ter havido exceções, como os padres excomungados.
O cheiro continuava a me atacar em cada fechada de volume, em cada olhada ao redor. O mundo mofava sobre mim e eu tentava escapar da chuva. O peso era demais. Saí e respirei o ar puro. Deixei meu guarda-chuva aberto na calçada e voltei para me despedir do homem que lia na mesinha, ele tinha sido simpático.
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