terça-feira, novembro 21, 2006

Série Vestibular: O professor de geografia é doidão.

O professor de geografia é doidão. Ele dá duas aulas todas as manhãs de segunda-feira. Chega sempre falando de feijoada, churrasco, com a cara inchada dizendo que estamos todos fodidos. É um bosta, na moral. Mas gosto das aulas dele. Ele faz como quer, e isso dá certo. Não que todos os que fazem como querem, dão certo, mas ele dá.

A menininha diz:

- E aí Tiago, já resolveu o que vai fazer?
- Já.
- O quê?
- Diplomacia, eu quero ser um diplomatico.
­- Legal.
- E você?, pergunto.
- Eu vou fazer medicina.
- Putz, que bosta, se fodeu hem fía, então estuda pra cacete que é foda.
- Credo, que horror.

Aí ela me vira a cara e cochicha com a colega que se senta do outro lado. Certamente diz: “Que trash esse Tiago, só fala loucura, eu acho que ele é doente”.

Eu fico pensando: “Quem cochicha o rabo espicha, trash é o da mãe...”, e coisas do gênero. Mas prefiro ficar calado, acho que não vale a pena.

Daí, passo três dias ou mais sem falar com ela, nem com ninguém. Há certas aulas, como as de exatas, que me causam uma sonolência tão profunda que mesmo se falam comigo, não reajo, não respondo. Durmo, e se não estou babando debruçado sobre a carteira, estou em transe fingindo prestar atenção em qualquer coisa que o professor diz. Puxa, é tão complicado aquilo. Quando dá meio-dia, a agonia toma conta. Os quinze minutos finais parecem mil e setecentos. Então soa o sinal, após o professor ter resolvido fazer mais um exercício porque ainda faltavam dois minutos. Um idiota fica com dúvida, e todos os outros idiotas – Nós - têm que esperar mais uns cinco ou seis minutos para sair, até que o idiota-mór esclareça seus problemas sexuais. Eu acho que um sujeito ter dúvidas de Química aos dois minutos para o término da aula é muito mais do que idiotice, é fracasso sexual, falta de punheta; várias gozadas punhetísticas lhe foram interrompidas por mãe que não bate na porta, irmã que quer secar o cabelo no banheiro, pai filho-da-puta que pega o sujeito no flagrante e ainda fica tirando onda, só pode. Tenho dó de sujeitos assim, na moral, coisa triste.
Em outros dias, a tragédia é tão pachorrenta quanto ridícula. Imbecis saem do comforto de suas camas e se deslocam até as cadeiras frias daquele anfiteatro para simplesmente dormir. Não que eu não seja um deles, mas é que tem horas que não dá, principalmente nas aulas de blablabla. Além de tudo, pagam mensalidade.

Como eu ia dizendo, depois de algumas semanas sem ela me dirigir a palavra, surpreendentemente a menininha fabulosa diz:

- Mas pra qual faculdade você pretende prestar?
- Naquela faculdade católica bem cara, mas bem conceituada. Claro que também na pública. Mas a pública é só por obrigação. Eu realmente não acredito que passo.
- E se você só passar na faculdade cara, vai fazer mesmo assim?
- Vou ué, claro.
- E como que vai pagar, se ela é cara?
- Ah, aí dou um jeito, me viro, sei lá, sabe como é, a faculdade é católica, sempre tem um padre vèado que é reitor, ou vice-reitor, ou alguém que come os dois e tem influência. Sempre tem um jeito.
- Credo. Mas pior que é verdade, as instituições católicas do mundo todo estão repletas de sacerdotes desviados. Mas não entendi, o que isso muda pra você?
- Ah, eu presto favores sexuais pra eles. Meu, com a mensalidade da faculdade garantida, mais uns trocos pra beber no final de semana, tá tudo lindo.
- Credo, você é nojento!
- Eu não, os padrécos é que são. Eu tenho que me virar, e essa é uma das minhas possibilidades, por que não usá-la, né não? Olha bem aqui pra mim, pro meu rostinho de anjo, diz aí que nunca quis me comer, ãhm? Diz!, diz que eu quero ver. Se você me der trela, garota, eu te levo pro mundo das delícias. Taco você na parede e te deixo lá pregada e sem pregas no escorredor.
- Asqueroso! Porco! Você precisava freqüentar o grupo de jovens conosco. É ali na igreja São José. Bem legal, costumamos nos reunir todos os sábados à tarde. Tocamos músicas de cristo, nos divertimos, bem legal mesmo. Venha um dia para ver.
- Ah, eu não posso, não tenho tempo. Tenho estado muito corrido.
- Mas é sábado à tarde, não tem aula, e duvido que você trabalha aos sábados à tarde.
- É, realmente não, costumo estar pelos botecos tomando umas. Sabe como é, a gente vence a semana toda com um sofrimento danado. Sabadão à tarde a dgeleada é sagrada.
- E com quem que você vai?
- Geralmente vou sozinho. Eu gosto de bar, sabe, de mesas de sinuca, de conversar com o botequeiro, principalmente com o Seu Osvaldo. Na maioria das vezes eu vou até lá, ele é bem gente boa. Aí pago fichas e cervas pra quem quiser jogar comigo. Eles sempre ganham as três primeiras, daí ficam com dó e começam a me deixar ganhar. Filhos-da-puta! Odeio quando percebo isso. Fico feliz por estar ganhando, e aí descubro que é de mentira. Normalmente são aqueles tipos que andam em malocas. São pessoas boas, apesar da aparência e dos modos ridículos.

Então ela se vira para contar tudo à colega que veste calça muito justa e botas extravagantes. Puxa vida, é cada coisa surreal que me acontece, que vou te contar viu.

4 Comments:

Blogger Guilherme N. M. Muzulon said...

hahahah.

9:41 AM  
Anonymous Anônimo said...

Ahahahahhahhahahhahaha.....


E olha, tem uma comunidade no Orkut que eu tive que entrar, logo quando me ingressei naquele mundo:
ODEIO PERGUNTAS NO FIM DA AULA.

Abraco.

4:18 PM  
Anonymous Anônimo said...

mandou bem, tiago.
tirasse bom proveito da estupidez e futilidade cotidiana, com esse texto.

5:07 AM  
Anonymous Anônimo said...

Ha! ha! ha! Fantástico.

10:16 PM  

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