Quanto custa para cruzar o universo?
- Quanto custa para cruzar o universo?
- Um beijo. Um sorriso riscado. E mais alguns trocados.
- Quanto?
- Não importa quanto for, nós teremos.
- Eu não sei como nem por que, mas eu acredito em você.
- É porque eu sei do que falo.
- Eu estou com tanta saudade.
- De quê?
- De você.
- Mas eu estou bem aqui do seu lado.
- Não o suficiente. Eu queria que você estivesse dentro de mim, queria que me fosse.
- Posso ser.
- Não pode, a matéria não permite.
- Tenho muito que fazer também, se conseguisse minimizar tudo, todos os pesos.
- Eu não suavizo o mundo para você?
- Não o suficiente.
- Quanto lhe pesa o mundo?
- Um bolso cheio de moedas de duas Libras.
- Só moedas de duas Libras?
- Aham.
- Que mais, que mais faz com que o mundo lhe seja pesado?
- As placas amarelas dos meus dentes. As minhas unhas mal-cortadas. Os meus cílios que se desgrudam sozinhos. Os olhos com os quais você me olha. O dedo que me aponta. A língua que me lambe. O corpo que se funde ao meu. Os ocasos que, em acordo com as alvoradas, parecem não se cansar na diligente sucessão. Há dias que levanto desejando apenas que essa regra natural se quebre por algum tempo.
- Tudo isso pesa?
- Faz a vida pesar.
- Para o bem ou para o mal?
- Para o zero.
- Como assim?
- Seria muito mais fácil viver se o peso pendesse para cima, ou para baixo, de uma vez só. Canso de ponderar e nunca atingir conclusão alguma. O peso da vida não é nem pesado nem leve, vai sendo, assim, se arrastando tolerável. Eu tolero o tolerável.
- Eu sou um peso ou uma leveza?
- Os dois, até você consegue ser os dois.
- E é isso que dói? A vida não ser nem peso nem leveza? Nem fardo nem pluma?
- Muito possivelmente.
- Por quê?
- Porque se fosse peso, seria simples, bastava me livrar dela.
- Dela quem?
- Da vida, oras, não é dela que estamos falando?
- Tá. Mas e se fosse leveza.
- Também seria fácil vivê-la com gosto. Eu a chuparia, a beberia até o pingo mais seco.
- Entendo. Vamos ao bar?
- Por que não?! Pergunta como se tivéssemos coisa mais interessante para fazer nesses nossos dias de Nós dois além de sermos Nós, como único e somente temos sido.
- Vamos ficar?
- Sim, vamos ficar, embora Nós já nos tenhamos sido por muito tempo, continuemos sendo Nós em Nós mesmos.
- A primeira pessoa do plural.
- Um dedo no seu umbigo.
- Duas primeiras pessoas do singular.
- Uma metafodagem incrível.
- Eu o fodo.
- Não, eu a fodo.
- Não, Nós nos fodemos.
- Também. Mas antes disso, eu a fodo.
- Assim a metafodagem não se aplica.
- Claro que sim.
- Venha me buscar então.
- Como?
- Correndo.
- Devo pegá-la no colo?
- Claro!
- E devo jogá-la aonde?
- Ao sofá?
- À cama?
- À mesa!
- Quer que eu fique embaixo da mesa?
- Ao lustre!
- Meu bem, é um muquifo de ponta-de-rua.
- Ah é, não há lustres.
- Nem muitos objetos. Nem coisas. Nem glórias além das nossas.
- Nem ninguém além de Nós.
- Há ninguém senão nós.
- Há sapos coaxando?
- Há vultos se anuviando?
- Há sussurros suspirando?
- Há diabetas assobiando?
- Há uma dor aqui dentro latejando, gritando, pulando, esperneando, berrando para ser extraída.
- Posso arrancá-la com meu aguilhão?
- Arrancar quem?
- Não sei, quer que eu a arranque, arranque a dor, ou a arranque da dor?
- Todos. Mas depressa, por favor, tá foda de agüentar.
- Quer uma semente?
- Para em mim plantar?
- É.
- Quero.
- Quantas você tem?
- Eu tenho várias, mas não adianta, meu bem, só uma serve.
- Por quê?
- Não sei, queria saber, mas não sei. Pergunte ao peso da vida.
- Perguntarei.
- Você pode coçar a palma da minha mão?
- Posso.
- Pronto?
- Pronto.
- A semente foi plantada?
- A semente foi plantada.
- Um beijo. Um sorriso riscado. E mais alguns trocados.
- Quanto?
- Não importa quanto for, nós teremos.
- Eu não sei como nem por que, mas eu acredito em você.
- É porque eu sei do que falo.
- Eu estou com tanta saudade.
- De quê?
- De você.
- Mas eu estou bem aqui do seu lado.
- Não o suficiente. Eu queria que você estivesse dentro de mim, queria que me fosse.
- Posso ser.
- Não pode, a matéria não permite.
- Tenho muito que fazer também, se conseguisse minimizar tudo, todos os pesos.
- Eu não suavizo o mundo para você?
- Não o suficiente.
- Quanto lhe pesa o mundo?
- Um bolso cheio de moedas de duas Libras.
- Só moedas de duas Libras?
- Aham.
- Que mais, que mais faz com que o mundo lhe seja pesado?
- As placas amarelas dos meus dentes. As minhas unhas mal-cortadas. Os meus cílios que se desgrudam sozinhos. Os olhos com os quais você me olha. O dedo que me aponta. A língua que me lambe. O corpo que se funde ao meu. Os ocasos que, em acordo com as alvoradas, parecem não se cansar na diligente sucessão. Há dias que levanto desejando apenas que essa regra natural se quebre por algum tempo.
- Tudo isso pesa?
- Faz a vida pesar.
- Para o bem ou para o mal?
- Para o zero.
- Como assim?
- Seria muito mais fácil viver se o peso pendesse para cima, ou para baixo, de uma vez só. Canso de ponderar e nunca atingir conclusão alguma. O peso da vida não é nem pesado nem leve, vai sendo, assim, se arrastando tolerável. Eu tolero o tolerável.
- Eu sou um peso ou uma leveza?
- Os dois, até você consegue ser os dois.
- E é isso que dói? A vida não ser nem peso nem leveza? Nem fardo nem pluma?
- Muito possivelmente.
- Por quê?
- Porque se fosse peso, seria simples, bastava me livrar dela.
- Dela quem?
- Da vida, oras, não é dela que estamos falando?
- Tá. Mas e se fosse leveza.
- Também seria fácil vivê-la com gosto. Eu a chuparia, a beberia até o pingo mais seco.
- Entendo. Vamos ao bar?
- Por que não?! Pergunta como se tivéssemos coisa mais interessante para fazer nesses nossos dias de Nós dois além de sermos Nós, como único e somente temos sido.
- Vamos ficar?
- Sim, vamos ficar, embora Nós já nos tenhamos sido por muito tempo, continuemos sendo Nós em Nós mesmos.
- A primeira pessoa do plural.
- Um dedo no seu umbigo.
- Duas primeiras pessoas do singular.
- Uma metafodagem incrível.
- Eu o fodo.
- Não, eu a fodo.
- Não, Nós nos fodemos.
- Também. Mas antes disso, eu a fodo.
- Assim a metafodagem não se aplica.
- Claro que sim.
- Venha me buscar então.
- Como?
- Correndo.
- Devo pegá-la no colo?
- Claro!
- E devo jogá-la aonde?
- Ao sofá?
- À cama?
- À mesa!
- Quer que eu fique embaixo da mesa?
- Ao lustre!
- Meu bem, é um muquifo de ponta-de-rua.
- Ah é, não há lustres.
- Nem muitos objetos. Nem coisas. Nem glórias além das nossas.
- Nem ninguém além de Nós.
- Há ninguém senão nós.
- Há sapos coaxando?
- Há vultos se anuviando?
- Há sussurros suspirando?
- Há diabetas assobiando?
- Há uma dor aqui dentro latejando, gritando, pulando, esperneando, berrando para ser extraída.
- Posso arrancá-la com meu aguilhão?
- Arrancar quem?
- Não sei, quer que eu a arranque, arranque a dor, ou a arranque da dor?
- Todos. Mas depressa, por favor, tá foda de agüentar.
- Quer uma semente?
- Para em mim plantar?
- É.
- Quero.
- Quantas você tem?
- Eu tenho várias, mas não adianta, meu bem, só uma serve.
- Por quê?
- Não sei, queria saber, mas não sei. Pergunte ao peso da vida.
- Perguntarei.
- Você pode coçar a palma da minha mão?
- Posso.
- Pronto?
- Pronto.
- A semente foi plantada?
- A semente foi plantada.