domingo, outubro 15, 2006

Alas.

Cheguei numa tarde bizarra. Lampejos de sol gritavam para raios escuros de chuva. Eu sapecava em um ônibus de ar-condicionado estragado. O dia parecia estar vencido, mas era só impressão. Rubí e o Flores foram me (nos) recepcionar. Eu ia com o meu amigo doidão, Dilly, para a cidade das Serras.

A Mulher Gato das Unhas Escarlates havia vindo para o feriado. Oba, pensei, serão dias de casa cheia, leia-se orgia. Sushi lambeu meu pé. Cheirou os pêlos deixados pelo Bonifácio na última sessão anti-carrapatos. Cão maldito, embora castrado e gordo, continua perambulando pelo baixo meretrício, dia desses volta morto. “Ah, gurizaum!” Meu amigo Dilly foi embora para qualquer lugar, achou inconveniente onde estávamos, ou se achou, não sei, realmente não sei. A Mulher Gato das Unhas Escarlates ainda não havia chegado. O Flores foi para casa tratar das suas virtudes. E eu fiquei com a Rubí sem ter o que fazer. Dei-lhe uma surra que havia muito ela precisava ter, joguei-a na cama e a fiz pular. Pulamos durante algum tempo. Mas isso não importa. Logo a Mulher Gato chegou e começou a nos contar gracejos. Divertimo-nos, mas lá fora fazia calor e tínhamos que ir. Fomos ao boteco mais quente da região e bebemos altas doses de álcool. A loucura escalou a serenidade. O vento soprou contra os imbecis que tiveram casacos perdidos e decências ultrajadas. Meu foi quem falou o que era certo e o que era errado. Mas isso também não importa. de trouxa é rola!, como diria meu grande pequeno anãozinho.
“Você é uma delícia, eu poderia fodê-la até o dia amanhecer”, foi o que eu disse à cavalinha parceira da gordita. Ela achou tudo muito estranho e se afastou, preferiu pegar um daqueles tipos que freqüentam manicures e são sujos. Cosa posso fare con queste troie di merda?
Acordei embolado em cobertas catarrentas. Adoro pêlos. Mas eu estava lá, atirado sobre pelotas e colônias incríveis de ácaros. Minha grande tormenta, ácaros! Ainda vou exterminá-los todos. A Rubí tinha ido dormir na casa de algum parceiro sexual mais quente. “Como cheguei? O que houve? Que se passa?” foram algumas das primeiras perguntas do dia. O feriado de fato começara e eu já sofria da terrível revolta. Logo mais Rubí chegou e desabou. Foi tão deprimente vê-la mais miserável do que eu que resolvi ser complacente e adormeci novamente.
No outro dia o tempo passou remoto. Não rendeu. Espaçamos languidamente todos os segundos - e eu que justificara minha retirada indevida a mamãe como um passeio cultural. Um grupo de turistas, amigos da Mulher Gato, apareceu na casa da Sushi e fez besteiras conosco. Saímos para o segundo round da porra-louquisse vestindo paletó Ford Mustang, loucamente; uma noite de menos valia. Conheci a Groselha, mulher decente, muito da boa, querida. Disse eu a ela: “Eu vou lamber as suas pregas!” E ela deu risada. Fomos transferidos a uma outra realidade. Pessoas usavam cabelos e roupas antigas. Tudo era muito há muito tempo, e isso me causava as mais fantasiosas dispepsias. O Geléia quis brigar e, apesar de ele ser mil e trinta e três vezes maior, eu surrá-lo-ia até o fim. Fritamos algum óleo nos passeios e toaletes públicos. O negão da segurança deu risada de camarada, e eu tive a alucinação de que ele havia dito: “Aiaiai, bem de querido, ma me dê…” E já ia dizendo: "Galera, vocês por aqui! Que ótimo vê-los" Quando o Flores negou tudo - tinha sido só mais uma cuspida louca do cerebelo alterado.

Por fim lembrei que a Groselha era quem me tinha levado para casa na noite anterior. Eu estava imprestável, tanto que recusei a oferta de dois bilhões de coroas tchecas para ir a uma boate de vèados. Charles, meu grande amigo Charles, eu também tinha encontrado o Charles. Mas nada disso importa porque eu já devia estar na segunda noite.

A Sushi miou e ronronou por muito tempo. Acabamos na casa da Groselha trepando na cobertura. Nessa mesma fatídica noite, minha amiga Ká ressurgira do passado e me trouxera boas novas de um mundo que já se faz tão desconhecido quanto indolor. Eu não mais sou o fura-couro-de-gente-puladora!

Voltando, o céu era frio e nublado na cobertura da Groselha. Nossas consciências também. Havia muito de l’alcool. Na verdade, nem sei como acordei no outro dia, mas isso não importa. O que importa é que numa brincadeira sem-graça, o Flores começou algo que só terminaria na cama da mãe da anfitriã. Na manhã seguinte, fomos ao verdejante comer comida de gente verde (de fome, brincadeirinha). Tudo parecia muito ruim, e tudo era muito ruim, mas nem tanto (brincadeirinha). Comi e me satisfiz. Andamos pelas ruas e praças centrais da cidade das Serras e comprei livros de sexo em um sebo que cataloga os volumes. Arrependi-me, como disse eu dia desses a Rubí: “Puxa, preciso cortar o supérfluo”. Embora andássemos como zumbis boêmios em uma cidade infestada de gente que corre às ruas num pós-feriado pré-fim-de-semana, a noite prometia. Lambemos duas tigelas de óleo junto com a Groselha e fomos ao Tinki Winki, um boteco charmoso da região.
Caraleo, que fita! Mulheres seguravam paus de homens no toalete e depois saíam correndo. Outras levavam passadas de mão na bunda e reagiam violentamente. Garçons e atendentes serviam doses duplas de Tequila deliberadamente. Quem não gostava de samba, bom sujeito não era. As amarras do Sargento Modorra pipocavam unhas invasivas de defuntos furtados. Eu juro que tive medo, muito medo, mas após a terceira dose dupla da Ouro, eu me sentia em casa e reinante. Se o diabão me aparecesse afirmando a regência, eu o destituiria despoticamente. Nada disso me atingiu. O problema foi que, no auge da loucura, meu coração quis parar, trincadas agudas foram sentidas e eu acabei por me retirar. Voltei para o aconchego da Sushi, que me pôs para dormir de qualquer jeito. Devo ter levado mais de trinta porradas de mãos suaves de fêmeas deliciosas. Apanhei como um cachorro. Mas, nada disso importa, o que importa é que o óleo estilhaçou meu coração e agora ele tem agulhas dentro de si. Mas eu gosto de uma dorzinha de vez em quando; pontadas no coração fazem o sujeito se sentir vivo, diz aí se não é?.
No outro dia Rubí estava jogada ao meu lado como uma indigente. Na sala se amontoavam o Flores e a Mulher Gato das Unhas Escarlates, glamurosos. Fomos ao cinema ver pirilimpimpim, o garoto mais sagaz da paróquia, depois ao caffè beber espresso e ler o Sartre dizer que se fosse um intelectual do Borundi, se preocuparia somente em construir pontes e salvar pessoas doentes inocentes. Aiai, o duro é estar nessa idade e ainda ter de agüentar certas coisas que... Nem vale a pena contar. Desta vez o dia atuou em nosso favor e saímos cedo para ir ao Velvet. A Modesta Amiga do Jotalhão veio me apertar e eu deixei. Fui assim, dado. Admiro a atitude virtuosa de certas pessoas, no duro. Disse eu a ela:

- Vamos passear?
- Não, obrigada.
- Por quê?
- Porque tenho que levar meus amigos vèados embora.
- Então foda-se, eu vou embora.
- Tá cedo.
- Não tá não.

Essa última noite foi boa. Eu brinquei de dançarino a palhaço, de homem-aleluia a viajante. De comedor de ópio a fanfarrão. Eu sou uma peada mesmo, hahae.

“Ei tio, com quantos pauzinhos se faz um barco?”

Foi o suficiente para despertar nele o mais profundo desejo de nos divertir. Encenou peças, fabricou jóias, e se jogou a piração. Entendi nada. Na verdade, já estava demais de perturbado para poder pensar, e resolvi desistir de pensar. Caeiro me invadiu e pintou as paredes de sensitivismo alastrado. Eu vi o Ribatejo passar, e a paz que isso me causou foi tão certa que me fez parar e pensar em não pensar. Fui, apenas isso e qualquer coisa a mais. Um 'de certo' bem do acaso, do avesso. Alheio e vencido a certas tentações. O pecado. O dia que se ofusca em vulgaridade. Eu não mais acredito em mim e em minhas próprias bagaceiras. Que fiquem pelos cantos, jogadas, amassadas, descartadas. Bagaceiras são todas substituíveis. Exceções, revezes. Causam pânico, ou não. Eu preciso é de cortesia, amabilidade, gentileza, e indecência. Tive de um pouco de quase tudo. Tive o que procurava e merecia ter. Um mundo de desilusão para com o pensamento é a conseqüência mais óbvia e natural a qual consigo chegar, por causa de recentes influências e descobertas. Incoeso e ainda não firme, afirmo: vivamos dos sentidos. Abandonemos o coração pulsante-pensante-diletante, isso só traz o mal, a angústia. Sou mais o nada, ou o qualquer coisa.

Eu devia era me tornar o tutor das analogias, para que elas fossem transformadas em anacronismos. Toda analogia é uma cagada para trás. Julgo o medíocre, o imbecil, e o patife; o resto, passo para meus colegas de trabalho. Quem sou eu para dizer e medir 'a qualquer coisa do mundo'.

3 Comments:

Blogger Tiago Muzulon said...

Ah, ficou uma droga, mas eu não vou fazer nada contra isso, estou velho demais para tarefas improdutivas.

11:48 PM  
Anonymous Anônimo said...

não contou o domingo..

4:59 PM  
Blogger Tiago Muzulon said...

o domingo vem depois...

7:06 PM  

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