A Incomunicabilidade ou a Indiscutibilidade.
A serenidade é algo inviolável. Quero acender velas e dissecar as fibras que cobrem aquilo tudo. Um monumento. Uma ogiva de afetação e desentendimento. Ela me mente, e eu cedo a ela. Concedo as verdades vazias, os olhares sem culpa, os porquês indizíveis e secos. Ela me foge ao longe e eu tento abocanhá-la com toda a devassidão que minha fofura permite.
Somos um único e singular poço de luxo. Embebemo-nos mutuamente e nos tornamos recipientes envidraçados. Fragmentos intangíveis apesar de estarmos um dentro do outro. A parte líquida escorre por fora e se infiltra em nossos poros. Mas eu grito a ela: Não há jeito; não há poro; a redoma é completa e hermética. Ela me retruca fragilizada, basicamente um vaso de vidro irascível. Ignoro. Viro as costas mesmo para comportamentos doentios.
Solto espumas de afetação e ela não entende. As coisas assim se complicam, aconselho a ela. Que continua sem entender o que eu jamais vou explicar com a clareza que ela precisa.
Incomunicabilidade. Antonioni. Michelangelo Antonioni. Monica Vitti. Meu membro intumescido. Especulação acerca de razões plausíveis. Indiscutibilidade de certas questões. É tudo um jogo. Todos fingem. Eu finjo. Nós fingimos. Vocês fingirão eternamente. Eu talvez não. Brincar de ser legal também cansa. Pelo menos já alertei minha conviva e tutora de que em casa eu lançarei mão das máscaras. Fotografias, fugas no parque, um assassinato, muita indiferença e descaso. Ninguém se importa senão com a diversão. Eu também não. Quero mais é enfiar meus dedos no mel que desce cintilante e viscoso daquele ralo chamado ‘entranhas’ dela.
Abri a porta, desci do carro e vi a sombra de minha perna esquerda sobre um gramado curto e miseravelmente pavimentado. Foi a gota d’água, disse a mim mesmo. O teatro do absurdo me cansa. As mentiras do ‘amanhã cedo’ estão perdendo o foco. Preciso reinventar meu palco. Reescrever meus discursos e roteiro. Repensar minhas encenações. Retocar a maquiagem. Os diálogos já desusados e conseqüentemente desalmados. E foi ela quem causou tudo isso. Aquela que me ensinou a verdade dos bichos. Agora sei cuspir baforadas de ilusão com gotículas de compaixão, graças à ela. A sinceridade entreguista se aproxima, inadiavelmente. Eu quero que ela se foda. Que se vá e passe sem deixar laiá. É mentira. É falso. No entanto, quanto mais inverossímil isto for, mais eu a desejarei. Embora não possa, pois há uma conduta a ser zelada. Um ritmo de vida a ser sustentado. Axiomas pseudo-dândicas a serem ostentadas.
- Que merdas são essas?, digo a mim mesmo, um bando de farelos assoados no pavimento quebrado do boulevard?
- É a decadência uma decorrência direta da insensatez?
- Possivelmente.
- É ela uma incoerência?
- Certamente.
- Querer a ela e somente a ela é um equívoco?
- Dos mais lamentáveis.
- Há algo a ser feito?
- Temo poder dizer que não.
- E agora então?
- Mate-se ou mate a ela.
- Mas ela está longe.
- Então não mate ninguém ou mate qualquer pessoa.
- Não quero, tenho preguiça, prefiro ficar deitado em minha cama lamentando não sei exatamente o quê.
- Sabe que agora não pode mais fazer isso, não sabe?
- Sei. Mas por que não posso mais?
- Porque você já convenceu gente demais de que é um bom homem, grande e responsável e maduro.
- Mas eu sou um idiota que nem ao menos se admite ter verdades supremas e sobrepujantes. Sou um cínico de araque. Uma falsidade desfacetada e indecorosa.
- O que tem mesmo é medo de ser um rastejante.
- Também.
- Adoeça então e faça sem delicadeza, esqueça a gentileza. Seja desnecessariamente arrogante, ou então simplesmente desnecessário.
- Você sabe tanto quanto eu que o meu maior medo é a mediocridade. Se eu for desnecessário, aí sim terei inspiração suficiente para escrever o meu mais belo livro: La Mort.
Bergman é tão profundo no tratamento para com seus temas quanto ela é quando penetrada por mim. Máxima verdadeira. Caldas. Caldas que se despejam corpo dela abaixo. Lambo tudo o que é meu. Morro assim que os ventos cessarem sob aquele cobertor na ventania do alto do morro. Ser indiscutível é o que mais dói. Vejo assim que ela surgir. Mordo assim que a carne dela luzir o branco. Enterneço, juro que ainda posso, enterneço assim que seus olhos me buscarem desprevenidos daquela maldita afetação. Coloco minhas tripas de fora assim que ela me pedir com doçura. Catalogo todos os oásis do mundo em um papel sem linhas de folhas riscadas em x para a ela agradar. Mostro a dor que ela causa em meu membro e lhe explico pacientemente tudo. Vingo a miséria trazida assim que ela partir. Durmo quando a luz se apagar.
Somos um único e singular poço de luxo. Embebemo-nos mutuamente e nos tornamos recipientes envidraçados. Fragmentos intangíveis apesar de estarmos um dentro do outro. A parte líquida escorre por fora e se infiltra em nossos poros. Mas eu grito a ela: Não há jeito; não há poro; a redoma é completa e hermética. Ela me retruca fragilizada, basicamente um vaso de vidro irascível. Ignoro. Viro as costas mesmo para comportamentos doentios.
Solto espumas de afetação e ela não entende. As coisas assim se complicam, aconselho a ela. Que continua sem entender o que eu jamais vou explicar com a clareza que ela precisa.
Incomunicabilidade. Antonioni. Michelangelo Antonioni. Monica Vitti. Meu membro intumescido. Especulação acerca de razões plausíveis. Indiscutibilidade de certas questões. É tudo um jogo. Todos fingem. Eu finjo. Nós fingimos. Vocês fingirão eternamente. Eu talvez não. Brincar de ser legal também cansa. Pelo menos já alertei minha conviva e tutora de que em casa eu lançarei mão das máscaras. Fotografias, fugas no parque, um assassinato, muita indiferença e descaso. Ninguém se importa senão com a diversão. Eu também não. Quero mais é enfiar meus dedos no mel que desce cintilante e viscoso daquele ralo chamado ‘entranhas’ dela.
Abri a porta, desci do carro e vi a sombra de minha perna esquerda sobre um gramado curto e miseravelmente pavimentado. Foi a gota d’água, disse a mim mesmo. O teatro do absurdo me cansa. As mentiras do ‘amanhã cedo’ estão perdendo o foco. Preciso reinventar meu palco. Reescrever meus discursos e roteiro. Repensar minhas encenações. Retocar a maquiagem. Os diálogos já desusados e conseqüentemente desalmados. E foi ela quem causou tudo isso. Aquela que me ensinou a verdade dos bichos. Agora sei cuspir baforadas de ilusão com gotículas de compaixão, graças à ela. A sinceridade entreguista se aproxima, inadiavelmente. Eu quero que ela se foda. Que se vá e passe sem deixar laiá. É mentira. É falso. No entanto, quanto mais inverossímil isto for, mais eu a desejarei. Embora não possa, pois há uma conduta a ser zelada. Um ritmo de vida a ser sustentado. Axiomas pseudo-dândicas a serem ostentadas.
- Que merdas são essas?, digo a mim mesmo, um bando de farelos assoados no pavimento quebrado do boulevard?
- É a decadência uma decorrência direta da insensatez?
- Possivelmente.
- É ela uma incoerência?
- Certamente.
- Querer a ela e somente a ela é um equívoco?
- Dos mais lamentáveis.
- Há algo a ser feito?
- Temo poder dizer que não.
- E agora então?
- Mate-se ou mate a ela.
- Mas ela está longe.
- Então não mate ninguém ou mate qualquer pessoa.
- Não quero, tenho preguiça, prefiro ficar deitado em minha cama lamentando não sei exatamente o quê.
- Sabe que agora não pode mais fazer isso, não sabe?
- Sei. Mas por que não posso mais?
- Porque você já convenceu gente demais de que é um bom homem, grande e responsável e maduro.
- Mas eu sou um idiota que nem ao menos se admite ter verdades supremas e sobrepujantes. Sou um cínico de araque. Uma falsidade desfacetada e indecorosa.
- O que tem mesmo é medo de ser um rastejante.
- Também.
- Adoeça então e faça sem delicadeza, esqueça a gentileza. Seja desnecessariamente arrogante, ou então simplesmente desnecessário.
- Você sabe tanto quanto eu que o meu maior medo é a mediocridade. Se eu for desnecessário, aí sim terei inspiração suficiente para escrever o meu mais belo livro: La Mort.
Bergman é tão profundo no tratamento para com seus temas quanto ela é quando penetrada por mim. Máxima verdadeira. Caldas. Caldas que se despejam corpo dela abaixo. Lambo tudo o que é meu. Morro assim que os ventos cessarem sob aquele cobertor na ventania do alto do morro. Ser indiscutível é o que mais dói. Vejo assim que ela surgir. Mordo assim que a carne dela luzir o branco. Enterneço, juro que ainda posso, enterneço assim que seus olhos me buscarem desprevenidos daquela maldita afetação. Coloco minhas tripas de fora assim que ela me pedir com doçura. Catalogo todos os oásis do mundo em um papel sem linhas de folhas riscadas em x para a ela agradar. Mostro a dor que ela causa em meu membro e lhe explico pacientemente tudo. Vingo a miséria trazida assim que ela partir. Durmo quando a luz se apagar.
1 Comments:
Aí seu filho-de-uma-vadia... qualé?
acabou o amor; já sem álcool?
Fine della vita, mio fratello?
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