Férias no Tizoro.
Era só erguer a mão esquerda pela rua que as janelas do largo meretrício se abririam como flores. Queríamos foder, eu e meus irmãos. Todos os cabarés estavam fechados e acenávamos visivelmente em vão. Logo um barbudo parecido com o diabo que fumava um cigarro estranho e fedia à pinga nos chamou. Atravessamos a rua e ele nos abriu uma porta. Entramos, Matilde foi logo dizendo que a cama era de cimento e não tinha perigo de quebrar. Serviu-nos uma dose de PARATUDO e apresentou-nos a Lucinéia e a Geralda. Custava deilão a foda e cinco o boquete. Oferecemos vinte por uma suruba entre nós três mais duas mulheres, Matilde e Lucinéia. A Geralda era trash demais, fora de contexto.
Levamos um litro da pinga para o quarto e nos despimos. A boceta de Matilde fedia à fossa e Lucinéia não tinha dentes. Meu irmão apertava as banhas saltadas do canto da barriga de Matilde e eu apertava as tetas. Logo meu irmão mais novo penetrou Lucinéia e ela quis me beijar enquanto trepava com ele. Lambi sua cara e a língua e meus irmãos me olharam com nojo. Aí eu disse:
- Cara, se estamos com o pé na merda, é melhor afundarmos.
E virei outro gole da pinga. Enchi os copos de todos e continuamos felizes de conformismo e pinga.
Acordamos no outro dia todos vomitados. Matilde babava em meu umbigo e o dedão do pé do meu irmão do meio estava em minha orelha. Lucinéia roncava como um dragão e o irmão mais novo encostava a cabeça em sua teta esquerda. Enquanto ainda nos recompúnhamos, minha bisavó surgiu na porta com uma vassoura e começou a gritar:
- Que narquia fea é essa, simbora cambada que vão tudo apanhá di vara verde quando chegá em casa. Que poca vergonha é essa, durmindo fora de casa pra ficá em cabaré com puta. Ô disgrama bunita. Bóra, anda, caminha ligêro minino.
E assim ela nos enxotava com o cabo da vassoura sob uma cusparada de palavrões cabeludos.
Dormimos até o almoço e à tarde resolvemos ir à cachoeira refrescar nossas idéias. Alguns amigos meus de fora do contexto Tizorense foram conosco levando umas flores de Ónion para ser estraladas no caminho. A cachoeira estava cheia de palhaços e preferimos descer o rio para ficarmos em paz. Degustamo-nos em sessões de regozijo mútuo, todos nós incluindo meus irmãos. Na volta, a estrada estava coberta de arbustos e arvoredos cruzados, postos de modo que atrapalhavam o caminho. Era uma trilha no meio do mato e tivemos medo. Muito. Parecia uma obra alienógena para nos desviar do caminho correto e tivemos medo de nos perder. A insensatez dominava a mente das pessoas e o pavor era crescente. Eu, como o único cabra-home da excursão, tomei a dianteira e garanti a segurança do grupo até a saída da mata. Por fim, chegamos em paz e saciamos nossa larica na casa do meu avô. Havia um pão em uma forma que mais parecia um bolo de fubá, e eu comi como louco, crente de que era bolo de fubá. Mas era um pão enformado como bolo de fubá, apenas. E só me contaram depois.
Uma mesa de sinuca em um bar com um pôster da Vera Físcher de quatro com o escoador de dejetos posicionado para cima. Um rêgo arreganhado. É onde partilho de momentos mágicos com meus dois irmãos. Sábios assoviam insanidades em meus ouvidos cansados de blasfêmias desnecessárias. Somos poços de pudores escatológicos. Somos lixos antológicos. Eles e Eu em comunhão plena sobre uma mesa de sinuca de um boteco-cabaré com camas de cimento nos fundos em Tizoro, embalados por muitas garrafas de cerveja pagas por minha bisavó e por vèados que nos amam. É onde nos vemos, nos amamos, nos reencontramos, nos perfazemos. Somos completos em nós mesmos, auto-suficientes que subsistem de papoulas brancas e lírios melecados de insalubridade. Somos homens, ou fingimos ser. Temos que convencer nossa mãe disso. Persuadimos o acaso de que vencemos todos os dias as batalhas com os céus e trepamos com demônios divinificando-os, resgatando-os do inferno. Dissuadimos a desgraça e a amenizamos de modo que fique tenra como a tragédia. Lambemos algodão e nos completamos cuspindo beleza à porta de boteco. Eu e meus irmãos. Somos poetas da bosta. Somos a reafirmação da beleza, o retorno incrédulo e tardio do glamour.Somos os deuses que tutelam as intempestividades de mundos obtusos e falidos dentro de aquários de simplicidade, onde tudo não passa de mera superação e transfiguração de valores.
À noite, saímos e bebemos com os vèados locais. Eles nos pagaram muitas cervejas e a turma perdeu a compostura. Preferi ir embora mais cedo porque já me desfazia em farelos. Rubí me acompanhou deixando Esmeralda e o Flores com a guarda de meus irmãos mais novos. Depois eu seria informado de que eles acabaram indo a um velório às cinco da manhã completamente embriagados. Deram um show de escrotisse e a cidade inteira comentou. Os fatos chegaram aos ouvidos de minha bisavó, que não mais se importou demonstrando sua determinada indiferença para conosco e para com a porquisse da mente das pessoas. Ela costuma dizer que o certo é a diversão, seja como for.
No dia seguinte fiquei de resguardo até às onze da noite. Não resisti e fui ver o que se passava na rua. Meus amigos já tinham ido, pela manhã, e chamei meus irmãos. Kárem, uma safada que tinha pegado há dois anos em férias de verão, sorria para mim. Logo veio falar comigo e me perguntou por que não lhe havia dado atenção na noite anterior. Disse-lhe que era porque estava com a Rubí e que, naquela noite, queria foder mais ninguém senão ela. Disse-me que sentia saudades. Chamei-lhe para ir ao meu quarto. Disse que não, que era muito atrevimento meu. Levei-a então ao muro do cemitério. Em apenas vinte minutos ela já me mostrava as tetas. Fazia frio e eu reclamava de estar em meu país, meu estado, uma bosta dita tropical, e com frio. Além de tudo, tinha um quarto com banheiro sozinho para fazer o que quisesse, e tinha que ver as tetas da Karem no muro do cemitério. Detesto essas garotas pseudomoralistas. Elas querem foder a todo e qualquer custa embora insistam em paspalhices.
Não obstante os fatos, meu pau intumescia e o arranquei para fora ali mesmo fazendo caretas sugestivas para que Karem cuidasse dele. O que fez sem hesitar. Não me importava com os mortos que certamente nos assistiam, nem com os vizinhos, nem com nada. O que importava era somente o movimento que Karem sabia fazer incrivelmente bem. Logo a virei de costas arremessando-a contra a parede branca pintada de calcário, o que fez as suas mãos ficarem brancas e empoeiradas, e rebolamos ao som silencioso dos mortos e ao sussurro do vento dito lúgubre.
Após todo o ato, voltamos ao bar e bebemos algumas várias cervejas. O boteco-cabaré na praça da cidade se encheu de vèados e eu quis ir embora porque eles me assediavam. Karem ria para mim e fazia cara feia aos vèados. Senti-me um pateta e fui embora. Só para constar em meu depoimento, devo contar que na noite seguinte eu conseguiria arrastar Karem ao meu quarto, tiraria a sua roupa, lamberia os seus mamilos e ela recusaria a cópula. O sujeito ficaria tão irritado que a mandaria embora sem chance de volta e se masturbaria loucamente lembrando das noites gloriosas com Rubí.
Que mulher, que rebolado, que manejo, que trejeito emaranhado de lascívia saltitante, que mente pululante de idéias para movimentações ultrajantes, que quentura que descia por seu ralo de fábulas encantadas. Rubí era a salvação, o delírio amarrado ao tesão genuíno. Uma flor autêntica do cerrado. Um lampejo de lucidez que escapou em brasas do inferno. Uma papoula branca que escorre polens de delícias inauditas e febris. Sou um espeto e ela uma bainha. Por alguns dias eu quis ser ela. Quis me derreter e fundir minha carniça à dela. Soprar os mais profundos e diáfanos vácuos carregados de indecências e além-verdades. Os orgasmos que tive com ela se perfazem imensos, multifacetados indecorosos embebidos em transcendência. A libido gerada em suas vísceras brotava de todos os poros e escorria por todo o corpo criando uma envoltura de calor plástico, uma nuvem, uma redoma que me fazia pensar em copular incessantemente como um cão. Um cheiro, sabor. Sim, Rubí era uma cadela no cio e eu era o Bonifácio, o cachorro-herói que nunca deixou de foder uma cadela por causa de cercas ou imposições dos donos. Bonifácio vazava cercas, escalava muros com cacos de vidro, pregos, telas eletrificadas, portões automáticos assassinos, escavava túneis e sempre atingia o seu ideal que era foder cadelas no cio, fossem puddles, chiuauas, cadelas carnicentas, sebosas e sarnentas, de meretrizes reais como as cockers de sua própria raça a cavalonas são bernardas, pastoras alemãs, filas e bulldogas. Bonifácio era foda, até ser castrado e virar um gordo que mais parece uma ovelha. Até hoje não resiste quando a Nanica entra no cio, uma bacê, e fica tentando fodê-la até minha avó separá-los dizendo: “que obscenidade absurda!”.
Por causa da Rubí, eu finalmente consegui compreender a real natureza dos bichos. Como bichos, nos arranhávamos, nos retesávamos, nos comíamos e nos regurgitávamos; nos respirávamos, nos assoprávamos, nos penetrávamos. Ela me comia e eu comia ela, a coisa toda se subvertia dentro de nós. Eu virava o seu couro do avesso e ela chupava as minhas tripas.
Por fim gozei de minha masturbação com ódio mortal da Karem e dormi soltando baforadas de fofura.
No dia seguinte ela veio me acordar. Tocou a campainha, entrou até a sala, conversou com minha bisavó e a convenceu de me acordar. A velhinha veio e disse:
- Acorda meu fí que tem uma kenga véa disavergonhada aqui querendo ti vê. Trem véio, num tem nem vergonha di aparecê na casa dos homi di manhã pracordá eles. Cambada, vale nada, num fica andando kesses trem aí não meu fí que isso num vale nada que eu sei. Essa Karem aí é a fia daquele homi que foi candidato e perdeu. Bem-feito, ninguém mandô sê bexsta.
Saí ainda variado e com remelo nos olhos quando ela me deu aquele sorriso. Pedi a ela peloamordedeus para que saísse. Insistiu em ficar. Minha bisavó notou a situação e a enxotou com xingamentos escabrosos. Minha bisavó é foda, meu orgulho por ela só cresce dia após dia. Não vou ficar sustentando uma vaca imoral que se julga decente e se nega de trepar comigo em meu próprio quarto com as tetas penduradas para fora.
Depois disso nunca mais a vi. Continuei saindo com meus irmãos, mais Tanaka e Nelinho todas as noites para beber cerveja e jogar sinuca. Nelinho é um sujeito que fode a minha tia adotiva, inclusive foi ele quem me acordou uma noite dessas fazendo-a gemer como uma égua no quarto-ao-lado-sem-cama-por-causa-da-elasticidade da Rubí. Meu irmão do meio, em uma noite dessas, conheceu Ludmila. Ela me disse que queria beijá-lo. No meio tempo, meu irmão mais novo chegou e ela veio me dizer que queria conhecê-lo também. Então lhe disse que era uma safada, mas que iria apresentar o Neném. Acabaram ficando. Então eu disse ao Guilherme, o irmão do meio, para ir à Ludmila e levá-la ao meu quarto, que estava vago. Para que fossem eles dois. O Neném era virgem e seria muito bom se ele se iniciasse tendo o irmão como companhia. Depois ele me voltou desolado dizendo que Ludmila se emputecera. Neném também acabou ficando bravo porque Ludmila sendo tratada como vagabunda havia abandonado os dois e tinha ido para casa dormir. Com isso pensei: que safada, quis beijar os dois e na hora do ato fugiu com falsos constrangimentos. Puta sem-vergonha, imodesta. Mais tarde minha tia adotiva viria me contar que Ludmila era uma vagabunda de pedigree, pois tinha um amante casado e rico que a mantinha em um apartamento de cobertura na capital do estado. Ela era velhinha para os guris, tinha por volta dos vinte e cinco anos, enquanto o Neném tinha treze. Estava no Tizoro para visitar os pais.
Desistimos da sinuca e formamos uma mesa com Tanaka, Nelinho, minha Tia Adotiva e meus dois irmãos. Uma menina chamada Larissa se aproximou e eu a ofereci um copo cheio e uma cadeira para se sentar. Toda cheia de falsos escrúpulos, Larissa recusou a cerveja dizendo que não bebia, então minha tia disse:
- Bebê cê num bebe, mas pegá em rôla cê pega né.
Sempre admirei o senso de humor fantástico de meus familiares. Rimos muito da piada e Larissa corou. Coloquei minha mão em sua perna e disse-lhe para não se envergonhar, pois todos ali eram cocô do mesmo ânus. Depois dei um beijo em sua nuca e ela arrepiou. Larissa era apenas uma ninfetinha de quase quinze anos. Deliciosa. Fantástica. Fabulosa. Esplêndida. Com cabelos loirinhos cacheados e pele morena de sol do cerrado mato-grossense. Visualizei-a peladinha em meu quarto como que em um filme do Rocco, mas preferi ir devagar. Pedi licença aos convivas e convidei-a para uma volta. Saímos. Ela me olhava e sorria timidamente. Fomos ao banco da segunda pracinha da cidade, onde ninguém freqüentava. Estava escuro e logo eu forçava o zíper de sua calça. Ela não deixava e me beijava o rosto com ternura, toda cândida, fiquei tão comovido com sua pureza que desisti. Desistência que durou por pouco tempo, pois logo ela mesma punha a minha mão em seu seio de bicos empedrados. Pedi-lhe licença e disse para confiar em mim. Com o dedo indicador a fiz gozar. Ficou feliz e a levei para casa, não tinha mais ânimo para comer uma virgem àquela hora da noite e estando ligeiramente embriagado. Pelo menos estou certo de que conquistei a eterna gratidão e simpatia da moça, em outra ocasião certamente o farei.
Quando voltei para casa e abri a porta da rua, escutei barulhos afogados e muxoxos descontínuos. Vinham da porta ao lado do meu quarto, onde não havia mais cama porque Rubí a tinha quebrado em uma de suas noites de demência incandescente. Apenas um colchão jazia no espaço deixado. Abri a porta com um chute e as pessoas se assustaram. Corri ao fio que cortava o espaço sobre o colchão portando o interruptor da luz e alguém tentou escapar. Bloqueei com meu corpo a passagem da porta de modo que a pessoa ficasse encurralada e gerenciei acender a luz. Neném, Guilherme e Neirinha acossada faziam uma suruba louca. Todos estavam nus e os meninos tinham camisinhas frouxas dependuras em seus paus. Disse, aham, tchazam, e tirei a minha roupa. Neirinha esboçou um sorriso desfacetado e desligou o interruptor. Na manhã seguinte pegaríamos o ônibus de volta ao mundo real e seria o fim de nossas férias de inverno.
Levamos um litro da pinga para o quarto e nos despimos. A boceta de Matilde fedia à fossa e Lucinéia não tinha dentes. Meu irmão apertava as banhas saltadas do canto da barriga de Matilde e eu apertava as tetas. Logo meu irmão mais novo penetrou Lucinéia e ela quis me beijar enquanto trepava com ele. Lambi sua cara e a língua e meus irmãos me olharam com nojo. Aí eu disse:
- Cara, se estamos com o pé na merda, é melhor afundarmos.
E virei outro gole da pinga. Enchi os copos de todos e continuamos felizes de conformismo e pinga.
Acordamos no outro dia todos vomitados. Matilde babava em meu umbigo e o dedão do pé do meu irmão do meio estava em minha orelha. Lucinéia roncava como um dragão e o irmão mais novo encostava a cabeça em sua teta esquerda. Enquanto ainda nos recompúnhamos, minha bisavó surgiu na porta com uma vassoura e começou a gritar:
- Que narquia fea é essa, simbora cambada que vão tudo apanhá di vara verde quando chegá em casa. Que poca vergonha é essa, durmindo fora de casa pra ficá em cabaré com puta. Ô disgrama bunita. Bóra, anda, caminha ligêro minino.
E assim ela nos enxotava com o cabo da vassoura sob uma cusparada de palavrões cabeludos.
Dormimos até o almoço e à tarde resolvemos ir à cachoeira refrescar nossas idéias. Alguns amigos meus de fora do contexto Tizorense foram conosco levando umas flores de Ónion para ser estraladas no caminho. A cachoeira estava cheia de palhaços e preferimos descer o rio para ficarmos em paz. Degustamo-nos em sessões de regozijo mútuo, todos nós incluindo meus irmãos. Na volta, a estrada estava coberta de arbustos e arvoredos cruzados, postos de modo que atrapalhavam o caminho. Era uma trilha no meio do mato e tivemos medo. Muito. Parecia uma obra alienógena para nos desviar do caminho correto e tivemos medo de nos perder. A insensatez dominava a mente das pessoas e o pavor era crescente. Eu, como o único cabra-home da excursão, tomei a dianteira e garanti a segurança do grupo até a saída da mata. Por fim, chegamos em paz e saciamos nossa larica na casa do meu avô. Havia um pão em uma forma que mais parecia um bolo de fubá, e eu comi como louco, crente de que era bolo de fubá. Mas era um pão enformado como bolo de fubá, apenas. E só me contaram depois.
Uma mesa de sinuca em um bar com um pôster da Vera Físcher de quatro com o escoador de dejetos posicionado para cima. Um rêgo arreganhado. É onde partilho de momentos mágicos com meus dois irmãos. Sábios assoviam insanidades em meus ouvidos cansados de blasfêmias desnecessárias. Somos poços de pudores escatológicos. Somos lixos antológicos. Eles e Eu em comunhão plena sobre uma mesa de sinuca de um boteco-cabaré com camas de cimento nos fundos em Tizoro, embalados por muitas garrafas de cerveja pagas por minha bisavó e por vèados que nos amam. É onde nos vemos, nos amamos, nos reencontramos, nos perfazemos. Somos completos em nós mesmos, auto-suficientes que subsistem de papoulas brancas e lírios melecados de insalubridade. Somos homens, ou fingimos ser. Temos que convencer nossa mãe disso. Persuadimos o acaso de que vencemos todos os dias as batalhas com os céus e trepamos com demônios divinificando-os, resgatando-os do inferno. Dissuadimos a desgraça e a amenizamos de modo que fique tenra como a tragédia. Lambemos algodão e nos completamos cuspindo beleza à porta de boteco. Eu e meus irmãos. Somos poetas da bosta. Somos a reafirmação da beleza, o retorno incrédulo e tardio do glamour.Somos os deuses que tutelam as intempestividades de mundos obtusos e falidos dentro de aquários de simplicidade, onde tudo não passa de mera superação e transfiguração de valores.
À noite, saímos e bebemos com os vèados locais. Eles nos pagaram muitas cervejas e a turma perdeu a compostura. Preferi ir embora mais cedo porque já me desfazia em farelos. Rubí me acompanhou deixando Esmeralda e o Flores com a guarda de meus irmãos mais novos. Depois eu seria informado de que eles acabaram indo a um velório às cinco da manhã completamente embriagados. Deram um show de escrotisse e a cidade inteira comentou. Os fatos chegaram aos ouvidos de minha bisavó, que não mais se importou demonstrando sua determinada indiferença para conosco e para com a porquisse da mente das pessoas. Ela costuma dizer que o certo é a diversão, seja como for.
No dia seguinte fiquei de resguardo até às onze da noite. Não resisti e fui ver o que se passava na rua. Meus amigos já tinham ido, pela manhã, e chamei meus irmãos. Kárem, uma safada que tinha pegado há dois anos em férias de verão, sorria para mim. Logo veio falar comigo e me perguntou por que não lhe havia dado atenção na noite anterior. Disse-lhe que era porque estava com a Rubí e que, naquela noite, queria foder mais ninguém senão ela. Disse-me que sentia saudades. Chamei-lhe para ir ao meu quarto. Disse que não, que era muito atrevimento meu. Levei-a então ao muro do cemitério. Em apenas vinte minutos ela já me mostrava as tetas. Fazia frio e eu reclamava de estar em meu país, meu estado, uma bosta dita tropical, e com frio. Além de tudo, tinha um quarto com banheiro sozinho para fazer o que quisesse, e tinha que ver as tetas da Karem no muro do cemitério. Detesto essas garotas pseudomoralistas. Elas querem foder a todo e qualquer custa embora insistam em paspalhices.
Não obstante os fatos, meu pau intumescia e o arranquei para fora ali mesmo fazendo caretas sugestivas para que Karem cuidasse dele. O que fez sem hesitar. Não me importava com os mortos que certamente nos assistiam, nem com os vizinhos, nem com nada. O que importava era somente o movimento que Karem sabia fazer incrivelmente bem. Logo a virei de costas arremessando-a contra a parede branca pintada de calcário, o que fez as suas mãos ficarem brancas e empoeiradas, e rebolamos ao som silencioso dos mortos e ao sussurro do vento dito lúgubre.
Após todo o ato, voltamos ao bar e bebemos algumas várias cervejas. O boteco-cabaré na praça da cidade se encheu de vèados e eu quis ir embora porque eles me assediavam. Karem ria para mim e fazia cara feia aos vèados. Senti-me um pateta e fui embora. Só para constar em meu depoimento, devo contar que na noite seguinte eu conseguiria arrastar Karem ao meu quarto, tiraria a sua roupa, lamberia os seus mamilos e ela recusaria a cópula. O sujeito ficaria tão irritado que a mandaria embora sem chance de volta e se masturbaria loucamente lembrando das noites gloriosas com Rubí.
Que mulher, que rebolado, que manejo, que trejeito emaranhado de lascívia saltitante, que mente pululante de idéias para movimentações ultrajantes, que quentura que descia por seu ralo de fábulas encantadas. Rubí era a salvação, o delírio amarrado ao tesão genuíno. Uma flor autêntica do cerrado. Um lampejo de lucidez que escapou em brasas do inferno. Uma papoula branca que escorre polens de delícias inauditas e febris. Sou um espeto e ela uma bainha. Por alguns dias eu quis ser ela. Quis me derreter e fundir minha carniça à dela. Soprar os mais profundos e diáfanos vácuos carregados de indecências e além-verdades. Os orgasmos que tive com ela se perfazem imensos, multifacetados indecorosos embebidos em transcendência. A libido gerada em suas vísceras brotava de todos os poros e escorria por todo o corpo criando uma envoltura de calor plástico, uma nuvem, uma redoma que me fazia pensar em copular incessantemente como um cão. Um cheiro, sabor. Sim, Rubí era uma cadela no cio e eu era o Bonifácio, o cachorro-herói que nunca deixou de foder uma cadela por causa de cercas ou imposições dos donos. Bonifácio vazava cercas, escalava muros com cacos de vidro, pregos, telas eletrificadas, portões automáticos assassinos, escavava túneis e sempre atingia o seu ideal que era foder cadelas no cio, fossem puddles, chiuauas, cadelas carnicentas, sebosas e sarnentas, de meretrizes reais como as cockers de sua própria raça a cavalonas são bernardas, pastoras alemãs, filas e bulldogas. Bonifácio era foda, até ser castrado e virar um gordo que mais parece uma ovelha. Até hoje não resiste quando a Nanica entra no cio, uma bacê, e fica tentando fodê-la até minha avó separá-los dizendo: “que obscenidade absurda!”.
Por causa da Rubí, eu finalmente consegui compreender a real natureza dos bichos. Como bichos, nos arranhávamos, nos retesávamos, nos comíamos e nos regurgitávamos; nos respirávamos, nos assoprávamos, nos penetrávamos. Ela me comia e eu comia ela, a coisa toda se subvertia dentro de nós. Eu virava o seu couro do avesso e ela chupava as minhas tripas.
Por fim gozei de minha masturbação com ódio mortal da Karem e dormi soltando baforadas de fofura.
No dia seguinte ela veio me acordar. Tocou a campainha, entrou até a sala, conversou com minha bisavó e a convenceu de me acordar. A velhinha veio e disse:
- Acorda meu fí que tem uma kenga véa disavergonhada aqui querendo ti vê. Trem véio, num tem nem vergonha di aparecê na casa dos homi di manhã pracordá eles. Cambada, vale nada, num fica andando kesses trem aí não meu fí que isso num vale nada que eu sei. Essa Karem aí é a fia daquele homi que foi candidato e perdeu. Bem-feito, ninguém mandô sê bexsta.
Saí ainda variado e com remelo nos olhos quando ela me deu aquele sorriso. Pedi a ela peloamordedeus para que saísse. Insistiu em ficar. Minha bisavó notou a situação e a enxotou com xingamentos escabrosos. Minha bisavó é foda, meu orgulho por ela só cresce dia após dia. Não vou ficar sustentando uma vaca imoral que se julga decente e se nega de trepar comigo em meu próprio quarto com as tetas penduradas para fora.
Depois disso nunca mais a vi. Continuei saindo com meus irmãos, mais Tanaka e Nelinho todas as noites para beber cerveja e jogar sinuca. Nelinho é um sujeito que fode a minha tia adotiva, inclusive foi ele quem me acordou uma noite dessas fazendo-a gemer como uma égua no quarto-ao-lado-sem-cama-por-causa-da-elasticidade da Rubí. Meu irmão do meio, em uma noite dessas, conheceu Ludmila. Ela me disse que queria beijá-lo. No meio tempo, meu irmão mais novo chegou e ela veio me dizer que queria conhecê-lo também. Então lhe disse que era uma safada, mas que iria apresentar o Neném. Acabaram ficando. Então eu disse ao Guilherme, o irmão do meio, para ir à Ludmila e levá-la ao meu quarto, que estava vago. Para que fossem eles dois. O Neném era virgem e seria muito bom se ele se iniciasse tendo o irmão como companhia. Depois ele me voltou desolado dizendo que Ludmila se emputecera. Neném também acabou ficando bravo porque Ludmila sendo tratada como vagabunda havia abandonado os dois e tinha ido para casa dormir. Com isso pensei: que safada, quis beijar os dois e na hora do ato fugiu com falsos constrangimentos. Puta sem-vergonha, imodesta. Mais tarde minha tia adotiva viria me contar que Ludmila era uma vagabunda de pedigree, pois tinha um amante casado e rico que a mantinha em um apartamento de cobertura na capital do estado. Ela era velhinha para os guris, tinha por volta dos vinte e cinco anos, enquanto o Neném tinha treze. Estava no Tizoro para visitar os pais.
Desistimos da sinuca e formamos uma mesa com Tanaka, Nelinho, minha Tia Adotiva e meus dois irmãos. Uma menina chamada Larissa se aproximou e eu a ofereci um copo cheio e uma cadeira para se sentar. Toda cheia de falsos escrúpulos, Larissa recusou a cerveja dizendo que não bebia, então minha tia disse:
- Bebê cê num bebe, mas pegá em rôla cê pega né.
Sempre admirei o senso de humor fantástico de meus familiares. Rimos muito da piada e Larissa corou. Coloquei minha mão em sua perna e disse-lhe para não se envergonhar, pois todos ali eram cocô do mesmo ânus. Depois dei um beijo em sua nuca e ela arrepiou. Larissa era apenas uma ninfetinha de quase quinze anos. Deliciosa. Fantástica. Fabulosa. Esplêndida. Com cabelos loirinhos cacheados e pele morena de sol do cerrado mato-grossense. Visualizei-a peladinha em meu quarto como que em um filme do Rocco, mas preferi ir devagar. Pedi licença aos convivas e convidei-a para uma volta. Saímos. Ela me olhava e sorria timidamente. Fomos ao banco da segunda pracinha da cidade, onde ninguém freqüentava. Estava escuro e logo eu forçava o zíper de sua calça. Ela não deixava e me beijava o rosto com ternura, toda cândida, fiquei tão comovido com sua pureza que desisti. Desistência que durou por pouco tempo, pois logo ela mesma punha a minha mão em seu seio de bicos empedrados. Pedi-lhe licença e disse para confiar em mim. Com o dedo indicador a fiz gozar. Ficou feliz e a levei para casa, não tinha mais ânimo para comer uma virgem àquela hora da noite e estando ligeiramente embriagado. Pelo menos estou certo de que conquistei a eterna gratidão e simpatia da moça, em outra ocasião certamente o farei.
Quando voltei para casa e abri a porta da rua, escutei barulhos afogados e muxoxos descontínuos. Vinham da porta ao lado do meu quarto, onde não havia mais cama porque Rubí a tinha quebrado em uma de suas noites de demência incandescente. Apenas um colchão jazia no espaço deixado. Abri a porta com um chute e as pessoas se assustaram. Corri ao fio que cortava o espaço sobre o colchão portando o interruptor da luz e alguém tentou escapar. Bloqueei com meu corpo a passagem da porta de modo que a pessoa ficasse encurralada e gerenciei acender a luz. Neném, Guilherme e Neirinha acossada faziam uma suruba louca. Todos estavam nus e os meninos tinham camisinhas frouxas dependuras em seus paus. Disse, aham, tchazam, e tirei a minha roupa. Neirinha esboçou um sorriso desfacetado e desligou o interruptor. Na manhã seguinte pegaríamos o ônibus de volta ao mundo real e seria o fim de nossas férias de inverno.
1 Comments:
...´´Por fim gozei de minha masturbação com ódio mortal da Karem e dormi soltando baforadas de fofura...´´
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